Nos últimos dias, os brasileiros testemunharam uma alta inédita do dólar e um novo aumento nas taxas de juros. O principal motivo apontado para esses movimentos seria a preocupação com o "descontrole fiscal" do governo. Contudo, economistas, em uníssono, rebatem essa visão sobre as contas públicas e afirmam que, ao contrário, o cenário econômico do Brasil é, na verdade, bastante positivo.
Após o anúncio, no final de novembro, do pacote de corte de gastos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o mercado financeiro entrou em turbulência, considerando a medida insuficiente para equilibrar as contas públicas. Como resultado, especuladores começaram a retirar seus investimentos do Brasil, trocando reais por dólares, o que impulsionou o preço da moeda norte-americana.
Poucos dias depois, em meados de dezembro, o Banco Central causou grande repercussão ao anunciar o aumento da taxa básica de juros, a Selic, para 12,25%. Na ata da reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou a necessidade de "desacelerar" a economia para manter a inflação dentro da meta estabelecida.
Desde então, esses dois movimentos têm alimentado uma visão pessimista sobre a economia brasileira, tanto na mídia quanto nos próprios indicadores, em um ciclo que se retroalimenta. No entanto, o cenário macroeconômico é, na realidade, muito positivo.
"O governo tem mantido o desemprego em níveis historicamente baixos, com a pobreza e a extrema pobreza também em mínimas históricas. A inflação, embora em trajetória ascendente, permanece baixa se comparada aos padrões brasileiros dos últimos 20 anos de sistema de metas. É uma inflação sob controle, para todos os efeitos", afirmam especialistas.
De fato, as previsões do mercado financeiro, transmitidas ao Banco Central e divulgadas pelo Boletim Focus, indicavam uma expectativa muito mais negativa para o ano do que aquela que se concretizou.
O PIB, por exemplo, tinha previsão de crescer 1,6% em janeiro, mas em dezembro o Focus sinalizou um aumento de 3,42%. O déficit público, por sua vez, alcançaria a marca de 0,8% do PIB, mas fecha o ano próximo de 0,5% — ainda maior do que a meta de 0% do governo, mas abaixo do esperado pelo mercado.
Embora a inflação tenha subido, há motivos conjunturais para isso, como os gastos governamentais em resposta ao desastre humanitário no Rio Grande do Sul, a alta global do dólar e o aumento da renda dos trabalhadores.
O aumento do salário mínimo e a queda do desemprego elevam a renda dos cidadãos, e isso, na outra ponta, acaba elevando também os preços, um movimento que é interpretado como inflação. "Mesmo assim, a inflação está muito próxima do teto da meta e não há sinais de descontrole."
Para o professor da Unicamp, o alarde causado pelo mercado financeiro, mesmo em um cenário que supera as suas próprias expectativas, se deve a uma indisposição que os especuladores têm com governos do Partido dos Trabalhadores (PT), que na sua visão possuem uma tendência de aumentar os gastos sociais.
Por outro lado, em governos ideologicamente alinhados, como o de Jair Bolsonaro (PL), com Paulo Guedes (ex-ministro da Economia), quando os gastos governamentais aumentaram, o mercado mostrou uma tolerância.
"Isso faz com que a reação seja desproporcional e os fundamentos econômicos importem menos na análise", disse.
Já para Faria, essa "má vontade" descrita por Diegues é reflexo de uma disputa ideológica entre dois setores da sociedade que lutam para definir a função do Estado. De um lado, um prevê a implementação dos direitos sociais previstos na Constituição de 1988, como saúde e educação universais. O outro defende uma intervenção mínima do Estado na economia, cortando gastos.
"Um lado quer que se cortem direitos previstos na Constituição, e o outro diz que o Orçamento deve servir à Constituição e deveríamos tributar o suficiente para financiar esses direitos."
á o professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fábio Sobral afirma que há diferentes interesses políticos dentro do campo econômico, e, nesse caso, os interesses dos setores especulativos estão sobressaindo. De acordo com Sobral, há outras maneiras de controlar a inflação que não passam por elevar a taxa de juros, como o controle de alguns preços-chave, como o de combustíveis pela Petrobras.
"A inflação brasileira é muito sensível a aumento de combustíveis, aumento de energia elétrica, aumento de remédios. Então se você controla os preços administrados, boa parte da inflação é controlada."
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Dessa forma, para os especialistas, a escolha pelo aumento dos juros é mais do que ineficaz, é contraproducente, uma vez que mina a sustentação financeira do governo, que passa a ter de cortar as despesas sociais para se manter, enquanto beneficia e protege o setor financeiro. Ainda assim, é o principal remédio contra a alta da inflação vendido pelos economistas que montam o Focus.
"O Boletim Focus não é um grupo imparcial, é gente absolutamente interessada em que os juros subam", diz Sobral. "É óbvio que eles vão criar impressões de descontrole de uma macroeconomia em estado crítico para que eles tenham os benefícios políticos, econômicos."
Segundo o professor, o Brasil faz parte de um fluxo internacional de capitais que se aproveita dos altos juros a que são vendidos os títulos da dívida brasileira.
"Retiram empréstimos em países de juros baixíssimos, ou a até 0%, no Japão, convertem esse dinheiro em dólares e compram a dívida pública brasileira, obtendo lucro na diferença gigantesca."
"Tudo isso é pensado e é proposital. Tudo é trabalhado politicamente. A economia em sua grande parte pelos economistas é uma farsa, uma elaboração fajuta para defender seus interesses próprios."
Urias Fonseca Rocha - Jornalista BR
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Urias Rocha |
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