Um colérico, declarou em alto e bom som para toda a turma ouvir: “o senhor é um herege!”. Eclodiu uma revolta quase que geral. Colegas dos quais eu sequer tinha tido tempo para aprender os nomes se posicionaram me defendendo. E o padre saiu da sala. Também não voltou na semana seguinte, sendo substituído por outro que nem tocou no assunto.
A consequência é que muitos colegas vieram me perguntar sobre o que era afinal o espiritismo. Não devo dizer que o tiro saiu pela culatra por ser isso muito impróprio, considerando que verdadeiros cristãos não faziam desde aquela época arminhas com as mãos. Entretanto, é inegável que com sua atitude ele fez “propaganda” favorável para uma religião que não era a que professava. Também é importante salientar que este padre não representou a conduta de outros com os quais convivi, que jamais questionaram o fato de não católicos estarem nas salas de aula. Lembro, por exemplo e com especial carinho, do irmão Mainar Longhi e das suas aulas de português, nas quais buscava transmitir seu imenso conhecimento com uma dedicação irrepreensível.
O termo herege tem origem na palavra grega hairetikós. Seu significado é algo próximo de “escolha”. Era usada para designar o homem que decidia seguir suas próprias opiniões, que se permitia adotar e sustentar posições contrárias ao senso comum. Na Grécia antiga ele também era um modo de descrever diferentes escolas do pensamento filosófico. Foi com o advento do cristianismo que aos poucos adquiriu uma conotação negativa, uma vez que simbolizava o que é desafiador. Isso rendeu condenações à fogueira para muita gente, felizmente sem conseguir silenciar o livre pensar. Herege, portanto, é todo aquele que não se contenta em seguir cegamente preceitos doutrinários, que só os aceita quando filtrados pela coerência, pela lógica, por valores humanitários e pela ciência. Kardec foi um dos grandes, portanto. Resta torcer para que os atuais seguidores da sua doutrina sempre adotem essa postura.
29.07.2024
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