Cuiabá e Campo Grande: Um Retrato da Crise sob Gestões de Extrema Direita
Uma análise dos primeiros meses das gestões de Abílio Brunini (Cuiabá) e Adriane Lopes (Campo Grande) revela um cenário de turbulência política, denúncias de má gestão e o colapso de serviços públicos essenciais.
Por Urias Rocha, jornalista independente e membro da ADESG
Em menos de um ano de mandato, as administrações do prefeito Abílio Brunini, em Cuiabá, e da prefeita Adriane Lopes, em Campo Grande, duas das principais capitais do Centro-Oeste, tornaram-se emblemáticas de um projeto político que combina discursos de confronto com a desestruturação de políticas públicas. Sob uma gestão alinhada à extrema direita, as cidades enfrentam crises profundas na saúde, educação e na própria estrutura de governança, com denúncias de nepotismo, clientelismo e uma ruptura deliberada com programas federais e estaduais.
Adriane Lopes - Promoveu o caos e o atraso na Capital do MS, uma cidade encalhada na falta de gestão com base no clientelismo e nepotismo sem precedentes da história da gestão municipal.
Em Cuiabá, o governo do conflito permanente
A gestão de Abílio Brunini em Cuiabá tem sido marcada por uma sucessão de embates e investigações. Sua carreira política, construída sobre o terreno da polêmica, agora se reflete em um governo sob a sombra de processos judiciais e acusações de práticas anticristãs, apesar de seu apoio em setores pentecostais .
Abilio Bruno e - Bolsonarista de extrema direita que levou a capital Cuiabá ao estado de calamidade pública.
🔍 Abílio Brunini: Sob a Lupa da Justiça
Caso Status Impacto
Reprovação de contas de campanha Contas reprovadas pela Justiça Eleitoral; determinação de devolução de R$ 2,8 milhões ao erário Prefeito alega "equívocos de cálculo"; processo em andamento
Ação de Impugnação de Mandato (PDT) Em trâmite, acusações de abuso de poder econômico, caixa 2 e fake news Investiga gastos excessivos com empresa de comunicação e serviços não comprovados
Investigação por Fraude na Saúde Ministério Público Estadual apura suposta fraude na Empresa Cuiabana de Saúde Pública Envolve ex-diretor nomeado por Brunini; investigação recai sobre sua gestão
Ruptura com a Vice-Prefeita Rompimento informal com a coronel Vânia Rosa após vistoria na Secretaria de Mobilidade Gera instabilidade política interna na gestão
Além das batalhas judiciais, o prefeito tem se notabilizado por ataques frontais a conquistas sociais. Em julho de 2025, Brunini foi acusado publicamente de violência política de gênero e racismo após tentar censurar a professora e doutora Maria Inês da Silva Barbuda por usar pronomes neutros durante uma palestra na 15ª Conferência Municipal de Saúde . O caso gerou revolta e manifestações de repúdio de diversas entidades nacionais em defesa dos direitos humanos, que classificaram a atitude do prefeito como "autoritária, misógina e racista" .
A postura de confronto não é nova. Em 2023, Brunini já havia sido acusado de fazer um gesto associado ao supremacismo branco durante sessão da CPMI dos Atos Golpistas, e em 2020, defendeu a ineficácia de vacinas contra a Covid-19, revelando um padrão de atuação baseado na desinformação e no negacionismo científico .
Em Campo Grande, a saúde em estado de sítio
Enquanto isso, em Campo Grande, a gestão da prefeita Adriane Lopes (PP) enfrenta um colapso generalizado na saúde pública, agravado por denúncias de desvio de verbas e loteamento de cargos.
🚨 Crise na Saúde: Falta de Insumos e Medicamentos
· Falta de Medicamentos Essenciais: Médicos das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) denunciaram em outubro de 2025 a falta de uma lista extensa de remédios fundamentais, incluindo ceftriaxona (antibiótico para infecções graves), dexametasona, omeprazol endovenoso e até dipirona e paracetamol . A situação é tão crítica que profissionais relataram improvisar com álcool 70% para antissepsia, prática totalmente inadequada para o contexto de urgência .
· Escassez de Exames Básicos: As UPAs também enfrentam a impossibilidade de realizar exames complementares cruciais, como troponina (para diagnóstico de infarto), amilase, creatinina e dosagem de sódio e potássio, obrigando os médicos a encaminhar pacientes graves para outros hospitais, sem garantia de vaga .
· Corte de Pessoal e Sobrecarga: Houve uma redução drástica nas escalas médicas sem aviso prévio, mesmo com a demanda elevada. O atendimento móvel, que auxiliava as unidades mais lotadas, agora vai "uma vez por semana; às vezes, nem isso", segundo relatos . Profissionais denunciam que a medida, motivada por "cortes de gastos", tem gerado sobrecarga e comprometido gravemente a qualidade da assistência .
Essa crise não é um episódio isolado. Já em abril de 2024, uma audiência pública na Câmara Municipal de Campo Grande havia revelado que, dos 243 medicamentos básicos da rede, 107 estavam em falta . A então nova secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, admitiu na ocasião que a situação era crítica, com um investimento de R$ 7,5 milhões sendo necessário para recompor parcialmente os estoques .
Paradoxalmente, em meio a esse cenário de falta de insumos básicos, a prefeita Adriane Lopes anunciou em abril de 2025 a promessa de zerar os buracos das ruas em 30 dias e climatizar todas as escolas da rede municipal até o fim do ano . No entanto, a mesma gestão não conseguiu garantir a presença de equipamentos de raio-X em três das seis UPAs da capital, essenciais para diagnósticos de emergência .
O clientelismo e o loteamento de cargos
A política de loteamento de cargos e a nomeação de aliados para posições-chave, sem a necessária qualificação técnica, aparecem como uma das causas-raiz da crise na saúde de Campo Grande. Vereadores já apontaram a excessiva burocracia e a falta de autonomia da Secretaria de Saúde para agilizar licitações como um entrave crônico, que se agrava com a nomeação de cargos por interesses políticos e não técnicos .
Em Cuiabá, a prática do nepotismo e do clientelismo também está sob escrutínio. O Ministério Público Estadual investiga uma suposta fraude na Empresa Cuiabana de Saúde Pública, que envolve um ex-diretor nomeado pessoalmente por Abílio Brunini . A investigação questiona a lisura na escolha de quadros para cargos estratégicos, sugerindo que o prefeito prioriza a fidelidade política em detrimento da capacidade de gestão.
Conclusão: O preço do fundamentalismo na gestão pública
As experiências de Cuiabá e Campo Grande sob as gestões de Abílio Brunini e Adriane Lopes servem como um alerta contundente sobre os riscos da instrumentalização do Estado por projetos fundamentalistas. O desprezo por evidências científicas, a ruptura com políticas de inclusão e direitos humanos, a distribuição de cargos como moeda política e o constante estado de conflito com outras esferas de governo têm um custo real e imediato: a vida da população mais vulnerável.
Enquanto discursos ideológicos dominam o palácio, nas UPAs, médicos improvisam com álcool 70% e pacientes com infarto são peregrinados por falta de exames. Enquanto se combatem pronomes neutros, a fila por uma vaga na educação ou por um medicamento para dor cresce. O projeto político em curso nessas duas cidades irmãs parece claro: desmontar, a qualquer custo, a máquina pública para servir a um fundamentalismo que não admite diálogo e muito menos, o pluralismo de ideias.
O futuro dirá se as instituições democráticas serão capazes de frear esse avanço sobre as políticas públicas antes que o dano seja irreparável.
ResponderExcluirÉ triste testemunhar duas cidades de tanta história e grandeza sendo manchadas pela ascensão de ideologias neonazistas. Campo Grande, uma terra rica, próspera e acolhedora, foi entregue — pelo voto de parte de sua própria população — a representantes que flertam com o ódio e o extremismo. Cuiabá segue o mesmo caminho, vítima da desinformação e da escolha equivocada de muitos. Só resta lamentar profundamente por ver duas capitais tão promissoras sucumbirem, ainda que temporariamente, a ideias que afrontam a dignidade humana e os valores democráticos.
Exatamente...
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