Ironicamente, o que chamamos aqui de minorias são, quantitativamente, a maioria da população. O termo minoria refere-se, na sociologia, a grupos sociais historicamente excluídos do processo de garantia dos direitos básicos por questões étnicas, de origem, por questões financeiras e por questões de gênero e sexualidade. Também podem entrar no conceito pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, como idosos e portadores de necessidades especiais.
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Minorias sociais e a luta por direitos
Historicamente, os grupos minoritários são aqueles que, por algum motivo, geralmente ligado ao preconceito de cor, classe social ou gênero, ficaram excluídos da sociedade, marginalizados, e não tiveram a plenitude de seus direitos básicos garantidos. Nesse sentido, podemos colocar a população negra, por exemplo, na condição de minoria, pois, durante o colonialismo europeu, os africanos foram capturados e vendidos como escravos.
Somente aqui no Brasil foram mais de 300 anos de escravidão dos negros trazidos para cá, e, mesmo após a abolição da escravatura em 1888, eles permaneceram em situação de penúria, muitos sendo libertos repentinamente, mas sem qualquer tipo de assistência, profissionalização, educação, moradia, alimentação e acesso à saúde. A população negra ainda sofreu e sofre com o racismo, o que impede qualquer efetividade de tratamento igual e de pleno acesso aos direitos básicos.
Antes da escravização dos africanos, os portugueses tentaram escravizar os indígenas brasileiros, o que não deu muito certo pela resistência indígena ao trabalho forçado. Os portugueses não somente escravizaram, como invadiram as terras, mataram, maltrataram e roubaram as riquezas naturais do ambiente em que os índios viviam. Riquezas essas que garantiam a manutenção do modo de vida tribal indígena, que dependia da natureza e utilizava-a com respeito e moderação.
Quanto às questões relacionadas à sexualidade, no caso de homossexuais e bissexuais, e quanto à identidade de gênero, no caso de transexuais, ambas dizem respeito a pessoas que sofreram (e sofrem) perseguições durante toda a história a partir do momento em que a moral judaico-cristã tornou-se hegemônica. A população LGBTQIA+ sofre diariamente agressões físicas, verbais, psicológicas, e ainda sofre com o estigma de sua condição, que muitas vezes a faz viver sob autorrepressão ou ser excluída de muitos espaços.
Em relação ao gênero, a sociedade, ainda muito patriarcal, exclui as mulheres e trata-as de maneira desigual em relação aos homens. Em determinados lugares e épocas, o tratamento dado às mulheres foi ainda pior, retirando delas até direitos políticos, como o direito ao voto.
Não é diferente com quem vive em condições de pobreza. As pessoas em situação de rua, as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e até mesmo as pessoas que não passam fome, mas vivem em condições de baixo poder aquisitivo, não tendo, muitas vezes, o direito à moradia digna respeitado, também são consideradas minorias.
Em todos os casos apresentados e em outros, acompanhados da exclusão pelo fato de serem grupos marginalizados, há a luta pela igualdade de direitos. Em um país ainda muito desigual e com imensos problemas sociais, como o Brasil, os movimentos negros, os movimentos feministas, o movimento LGBTQIA+, as centrais sindicais, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e tantas outras entidades surgiram por meio da luta coletiva de grupos minoritários excluídos. Sem a participação de indivíduos e grupos, várias conquistas sociais importantes para a nossa sociedade não teriam sido possibilitadas.
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Grupos de minorias
Ao falarmos de minorias, estamos falando de vários grupos diferentes que estão sub- representados ou em desvantagem no poder, seja esse poder econômico ou político, segundo a promotora de justiça e doutora em Direito (pela PUC/SP) Juliana Santilli. Essa característica envolve grupos minoritários étnicos, nacionais, sociais e de gênero, como negros, indígenas e pessoas com baixa renda.
A seguir, listamos e identificamos alguns dos grupos minoritários que podem ser incluídos no conceito de minoria.
Minorias étnicas
Podem ser negros, indígenas ou outras denominações de etnia que fujam da denominação branca. Isso ocorre porque houve um forte domínio europeu, que disseminou a população branca pelo mundo por meio de um movimento etnocêntrico, que considerou o homem branco como superior aos demais.
Nesse sentido, vivemos os resquícios do racismo europeu colonizador que refletem ainda na composição de nossa sociedade, atribuindo ao homem branco privilégios e excluindo as demais etnias, como negros e indígenas.
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Minorias nacionais
O termo aproxima-se muito da expressividade das minorias étnicas, pois as minorias nacionais são grupos minoritários e vulneráveis que compartilham etnia, cultura, religião e costumes característicos de um determinado local. Podemos falar que a identidade cultural e a realidade social do sertanejo, por exemplo, colocam-no como uma minoria nacional ao reconhecê-lo como parte de um grupo com características comuns e que compartilham da exclusão e da falta de recursos para uma vida em plena dignidade e igualdade de direitos.
Minorias sociais indígenas
A população indígena também se encontra em situação de vulnerabilidade social que a coloca entre as minorias. Os índios, habitantes originais do território brasileiro, hoje compreendem também uma minoria populacional, pois viveram um verdadeiro genocídio promovido pelo homem branco desde a colonização do Brasil.
Hoje, muitos índios foram forçadamente assimilados na cultura branca, pois o seu modo de vida tribal, que depende da floresta e dos recursos naturais, está cada vez mais limitado devido ao avanço das cidades, do agronegócio e da mineração, que destroem as possibilidades de subsistência que garantem ao indígena o seu modo de vida original.
População de baixa renda ou abaixo da linha da pobreza
Outro grupo fortemente excluído dos sistemas sociais contemporâneos é a população pobre. Os indivíduos dessa somam maioria absoluta em nosso país, mas encontram-se excluídos de qualquer sistema social ou político, pois a política é, majoritariamente, pensada por e para os ricos. A população pobre ainda vive em condições indignas de moradia, muitos dela não têm acesso ao saneamento básico, à alimentação adequada, à saúde e à educação de qualidade.
Todos os fatores somados, em especial o precário sistema educacional público, mantêm a população pobre em um ciclo de pobreza sem fim, retirando-lhe qualquer possibilidade de ascensão social.
Urias Rocha BR
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