Roberto Jefferson, o bandido de estimação do "bolsonarismo"
por Urias Rocha - Campo Grande - MS
Foto: Reprodução/ Twitter
“Bandido bom é bandido morto”. Essa é uma concepção muito comum entre os brasileiros e chegou ao seu grau máximo de expressão com a chegada ao Planalto de um pregador formal do tema, o presidente Jair Bolsonaro. Porém esse mote só é válido para bandidos pobres, mesmo que eles não tenham sido condenados pela Justiça. Basta ver que um dos grandes expoentes recentes dessa nova direita do Brasil é o ex-deputado federal Roberto Jefferson.
Midiático, o cacique do PTB ganhou o estrelato quando veio a público denunciar o episódio que ficou conhecido como “mensalão do PT”. À época, o então parlamentar jogou no ventilador um esquema de compra de votos na Câmara dos Deputados, algo que o submundo da política sempre acusou existir. A diferença era a profissionalização do balcão de negócios, algo até então inédito. Roberto Jefferson, então, conquistou a fama e também a alcunha de justiceiro anti-PT e anti-Lula.
No entanto, ele nunca foi herói. Para usar um termo popularizado pelo próprio PT no auge do mensalão, Roberto Jefferson se lambuzou com as benesses concedidas pelo governo de maneira extraoficial e antirrepublicana. Tanto que foi condenado nessa ação penal a mais de sete anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Como era necessário se manter “por cima da carne seca”, o ex-deputado deixou o legado político para a filha, Cristiane Brasil, que chegou a protagonizar a indigesta nomeação para o Ministério do Trabalho, barrada pelo Supremo Tribunal Federal.
Passado o momento aula de história, voltamos para 2020. Roberto Jefferson reapareceu como um baluarte da democracia ao defender em uma histriônica entrevista com um blogueiro da direita conservadora que existia um complô para um golpe contra Bolsonaro. O bate-papo, transmitido no YouTube, foi assistido ao vivo pelo presidente, numa espécie de metalinguagem do constrangimento. Ali foi a senha pública de que o cacique do PTB tinha, oficialmente, aderido ao governo, na aproximação de Bolsonaro com o centrão.
Roberto Jefferson cumpriu pena? Sim. Pagou pelos crimes? É relativo. Para quem acredita na lógica do “bandido bom é bandido morto”, provavelmente não. Mas agora ele é um bandido de estimação do bolsonarismo, com direito a aplausos e celebrações pelas denúncias “bombásticas” contra os adversários políticos dessa claque. Merece palanque e tem todos os méritos para voltar aos holofotes – afinal, falta de pudor nunca foi problema. É contradição que chama?
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