POPULAÇÃO
POPULAÇÃO: ESTRUTURA E CRESCIMENTO
Chamamos de população ao conjunto ou número de pessoas que habitam um determinado território, que pode ser uma área agricultável, uma cidade, um estado, um país ou mesmo todo planeta.
População absoluta é o número total de habitantes de uma paisagem geográfica. A importância do conhecimento da população absoluta de uma certa região é que as pessoas precisam de recursos para sobreviver: transporte, alimentação, emprego, moradia, educação, transporte e saneamento básico. O atendimento de todas as necessidades deve passar por um planejamento, quer governamental, quer pela empresa privada. Ora é, fundamental, para que esse planejamento seja executado, conhecer a quantidade de habitantes e os índices futuros de crescimento demográfico. O cálculo da população de uma área pode ser feito por recenseamento ( a contagem do número de habitantes por entidades especializadas; no Brasil, o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ou por estimativa, que é o cálculo da população futura usando como fatores os dados do recenseamento anterior acrescidos pelo número de mortos, acidentes e entrada ou saída de pessoas.
População relativa é a densidade demográfica, isto é, o número de habitantes por quilômetro quadrado. Seu cálculo é feito pela divisão do número de habitantes pela área do espaço por ela ocupado.
POPULAÇÃO ABSOLUTA + ÁREA =
|
NÚMERO DE HABITANTES POR km²
OU DENSIDADE DEMOGRÁFICA |
O conhecimento da densidade demográfica só tem valor se soubermos também a distribuição populacional de uma determinada área. Há países - e o Brasil é um exemplo disso -, que tendo grandes extensões territoriais, mesmo se o número de habitantes for grande, a densidade demográfica pode ser relativamente pequena. Essa é apenas uma média numérica. Os cálculos populacionais só ajudam a planejar se soubermos o grau de concentração da população no país ou na região.
POPULAÇÃO E NAÇÃO
A maioria das pessoas, em geral, usa os termos população e nação como se fossem a mesma coisa. População, como já dissemos, é o número de pessoas que moram numa determinada área. Nação é um conjunto de indivíduos que têm características culturais semelhantes e um passado histórico relativamente comum. Em certos países, sua população forma uma nação; existem outros - e o Brasil é exemplo disso - que abrigam pessoas de várias origens nacionais. São países multiculturais. Também na África Negraesse fenômeno é muito comum, pois as nações europeias que colonizaram aquele continente dividiram suas fronteiras sem levar em conta a presença de uma única ou várias tribos num mesmo espaço geográfico. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando os países africanos ficaram independentes, a existência de tribos ou nações culturalmente diferentes e, até, inimigas entre si vem provocando violentos massacres até hoje.
Além das diferenças de origem nacional, os países também conhecem outros contrastes: rendas diversificadas, pois há pessoas mais ricas e outras pobres; hábitos diferentes se elas moram nos campos ou nas cidades; atendimento médico muito discrepante e média de natalidade diferenciadas conforme o setor social ao qual as famílias pertencem. Normalmente, as pessoas mais pobres costumam ter mais filhos que os mais bem afortunados.
AS POPULAÇÕES: SUAS ORIGENS E A DIVISÃO ENTRE OS SEXOS E AS IDADES
Importante para compreender a estrutura das sociedades é, também, conhecer como elas se dividem quanto às origens étnicas, sexos e faixas etárias.
As Etnias
Todas as comunidades são plurais, pois são compostas por pessoas que têm diferentes origens étnicas. Etnia é o conjunto de traços, culturais e, de menor importância, físicos, que definem um povo. Antigamente, etnia recebia a errada denominação de raça. A moderna antropologia combate o uso da palavra raça, pois esse conceito enfatiza o aspecto físico das pessoas e contribui para o aumento do racismo, isto é, preconceitos que dificultam a relação entre os diversos povos. Na realidade, as diferenças étnicas são fundamentalmente culturais.
Quanto à cor, a população do planeta está dividida entre quatro grandes grupos étnicos: brancos, negros, amarelos e mestiços. Na Ásia, predominam amarelos; os negros são majoritários na África e os brancos constituem a quase totalidade da população europeia. Os mestiços, embora presentes em todos os continentes, são mais numerosos na América.
As Principais Religiões
No tocante às crenças, o mundo conhece basicamente as seguintes religiões:
Religiões monoteístas (crença na existência de um só deus) - judaísmo, cristianismo e islamismo.
Religiões politeístas - o animismo africano (cujos seguidores acreditam que todas as coisas têm alma e são expressões dos deuses) e o hinduísmo (dominante na Índia e defende a ideia de que há milhares de deuses, cujo principal é o "brahama".
Ética religiosa sem crença na existência de deuses - o budismo, presente na China, no Nepal, no Tibete e em certas regiões da Índia.
Religiões politeístas - o animismo africano (cujos seguidores acreditam que todas as coisas têm alma e são expressões dos deuses) e o hinduísmo (dominante na Índia e defende a ideia de que há milhares de deuses, cujo principal é o "brahama".
Ética religiosa sem crença na existência de deuses - o budismo, presente na China, no Nepal, no Tibete e em certas regiões da Índia.
Divisão entre sexos
Normalmente, na juventude ocorrem uma igualdade numérica entre mulheres e homens. A partir dos vinte anos, o número de homens progressivamente diminui em relação às mulheres. Este fenômeno ocorre por uma série de fatores:
Os homens, normalmente, vivem menos que as mulheres. Razões - certas doenças, como as cardíacasatingem mais o sexo masculino e como, ainda hoje, apesar das mulheres participarem cada vez mais do mercado de trabalho, as tensões, geradas pelo trabalho e pelas preocupações cotidianas, são maiores entre os homens, provocando danos ao organismo.
O número de mortes em função de guerras e acidentes é maior no grupo masculino.
No aspecto econômico, as mulheres, mesmo nos países desenvolvidos, ainda são discriminadas no campo profissional, recebendo, em geral, menores salários do que os homens, ainda que exerçam funções semelhantes. Em certas regiões do globo, principalmente naquelas onde vigora a religião Islâmica, a mulher é bastante marginalizada.
As Faixas Etárias
O gráfico quantitativo que mostra a distribuição das populações por idade em relação ao sexo é denominado de pirâmide etária. Ela possibilita tirar conclusões referentes à taxa de natalidade e à expectativa de vida de uma população. A pirâmide que possui uma forma triangular indica que é grande o número de jovens. Se a base da pirâmide for larga, podemos concluir que a taxa de natalidade é alta; já um "topo" estreito significa um número menor de idosos na população. Nesse caso, a expectativa de vida é baixa. Os países desenvolvidos se caracterizam pela baixa natalidade e alta expectativa de vida. Aí, a pirâmide apresentará uma relativa igualdade desde a base até o topo. Já nas nações subdesenvolvidas, a natalidade é alta mas a expectativa é baixa. Isso decorre da ignorância por parte da maioria da população de se evitar a gravidez e também de diversas endemias, pois os serviços de saúde pública são precários.
Pirâmide Etária
PROBLEMAS DAS POPULAÇÕES DO PLANETA
Apesar dos progressos da técnica e do grande desenvolvimento econômico do mundo atualmente, ainda são poucos os que foram por eles beneficiados. Na verdade, a grande maioria da população global do planeta ainda são vítimas da miséria, de doenças, da falta de habitação e da carência de uma boa formação escolar. Os grandes problemas do planeta podem ser resumidos em:
- analfabetismo - apesar dos programas governamentais de vários países com o objetivo de dar boa educação à sua população, o analfabetismo ainda é enorme no planeta. As nações de maior número de analfabetos são a Índia, o Paquistão, a Indonésia, a China, a Nigéria, a República Democrática do Congo e o Egito. É preciso também levar em conta que muitas nações, em termos numéricos oficiais, têm pequeno número de analfabetos, mas a qualidade de ensino é ruim.
- fome - a população do planeta é da ordem de 7.000.000.000 (sete bilhões) de pessoas; cerca de 900.000.000 (novecentos milhões) são subnutridos.
- saúde - nos países pobres, a mortalidade infantil ainda é muito alta, apesar dos progressos da medicina mundial, ainda reservada às pessoas mais prósperas. Muitas doenças, que pareciam já extintas, tais como a tuberculose, a malária, a lepra e a hepatite, estão ressurgindo. O grave problema da saúde mundial atualmente, na África principalmente, é a AIDS.
- urbanização descontrolada - com o crescimento, sem planejamento, das cidades, inúmeros são os atuais problemas urbanos, principalmente a violência, o aumento do número de mendigos, a falta de habitação digna, a carência de serviços básicos (água encanada, esgoto e energia elétrica e os problemas de trânsito, em função de poucos investimentos em transportes coletivos).
- trabalho infantil - além da fome e das doença, que matam, todos os anos, de 15 a 16 milhões de crianças menores de cinco anos de idade, outro grave problema é a exploração do trabalho infantil em regime de quase escravidão, já que os salários são muito baixos. Além disso, milhões de crianças vivem nas ruas em todo o mundo, obrigadas, pelas necessidades econômicas, a mendigar, roubar, traficar drogas e, no caso das meninas, praticar a prostituição.
- desemprego - há mais de 200.000.000 de desempregados no mundo e outros 900.000.000 subempregados.
- desastres naturais - as alterações ambientais provocadas por uma industrialização não planejada e poluente, além da despreocupação dos países ricos com as áreas desérticas ou semidesérticas do planeta, vêm causando envenenamento de rios, grandes secas e inundações em todo o planeta.
- a desvalorização da mulher - embora nas nações desenvolvidas, as mulheres hoje assumem posições de destaque na política e nas empresas, nos países pobres são elas a maioria das pessoas economicamente carentes. Podemos dizer que a pobreza é, hoje, feminina, pois seus salários, quando trabalham, são quase sempre inferiores aos dos homens. Outro grave problema é a venda de "escravas sexuais" de certos países para outros.
- violência étnica - os ódios raciais, diferenças de condições entre os povos e disputas territoriais vêm causando guerras entre etnias, principalmente na África Negra e na Península Balcânica.
- refugiados - 50 milhões de pessoas, forçadas por razões econômicas ou conflitos militares, abandonaram seus lares e vivem em outros países Atualmente, há milhões em movimento constante, desconhecendo qualquer tipo de habitação permanente.
Fonte: U.S. Census Bureau
Fonte: U.S. Census Bureau
POPULAÇÃO BRASILEIRA
Uma população pode crescer por meio da imigração ou da taxa de natalidade. Por outro lado, pode diminuir devido à emigração e à taxa de mortalidade.
O enorme crescimento de uma população deve-se, principalmente, à diminuição da taxa de mortalidade. Isso ocorre graças aos progressos médicos e sanitários, que prolongam o tempo de vida do homem. Tais progressos tecnológicos resultaram em um rápido crescimento da população brasileira.
Poucos países tiveram um crescimento populacional tão grande e rápido quanto o Brasil no século XX. No período abrangendo 1900 a 2000, o Brasil apresentou o maior percentual de crescimento populacional do mundo: 874%.
Contudo, nas últimas décadas essa tendência mudou. Houve no país uma queda no ritmo de crescimento da população, pois as mulheres passaram a ter menos filhos. Atualmente, o Brasil é considerado um país em transição demográfica: está passando de país jovem para maduro. Em 2013, a taxa de natalidade era de 1,77 filho por mulher. Esse número é menor do que o mínimo necessário para repor a população: dois filhos por mulher. A tendência é que a taxa de natalidade caia ainda mais. Segundo as projeções do IBGE, a população brasileira começará a se reduzir a partir de 2042.
A redução populacional enfraquece a economia de um país: significa menos pessoas com idade para trabalhar e pagar impostos. A redução da força de trabalho pode resultar na queda da produção econômica, levando a uma queda no PIB. Redução populacional significa menos pessoas trabalhando e produzindo, mas o mesmo número de pessoas recebendo previdência social.
Em 2014, com uma população de aproximadamente 203 milhões, o Brasil é o quinto país mais populoso do mundo, antecedido por China, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Histórico do Crescimento Populacional Brasileiro
O primeiro censo populacional do país foi feito em 1872 e constatou que havia cerca de 10 milhões de brasileiros. Em 2014, a população brasileira havia passado para 202 milhões de pessoas. Houve um aumento de 20 vezes desde o primeiro recenseamento realizado no Brasil, em 1872. Observe a tabela abaixo, que constata o grande crescimento populacional do Brasil:
Ano | Milhões de habitantes |
1872 | 9,9 |
1900 | 17,3 |
1930 | 41,1 |
1960 | 70,0 |
1980 | 119,0 |
1991 | 150,0 |
2000 | 169,5 |
2010 | 190,8 |
Fonte: IBGE. Tendências demográficas: uma análise preliminar do censo demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2001. p. 7.
Como se explica o tão elevado crescimento populacional brasileiro? Como explicado acima, o crescimento populacional resulta do crescimento vegetativo da população e de migrações – isto é, a entrada e saída de pessoas de um território. No caso do Brasil, até a década de 1930, o crescimento populacional foi muito influenciado pela imigração. A partir de então, ele passou a depender quase totalmente do crescimento vegetativo.
O crescimento populacional relativamente baixo entre 1872 e 1940 deveu-se principalmente à elevada taxa de mortalidade, principalmente infantil, devido às más condições médico-hospitalares e sanitárias, à desnutrição e às doenças infecciosas e epidemias. Entre 1940 e 1980, houve uma redução lenta de natalidade, mas uma queda acentuada da mortalidade, pois a população passou a ter mais acesso à assistência médica e hospitalar, à vacinação, à medicina preventiva, ao saneamento básico, enfim, à tecnologia que ajudou a prolongar a vida do homem. A consequência disto foi que em apenas 40 anos, no período de 1940 a 1980, a população brasileira quase triplicou.
Dados do último censo demográfico
O último censo demográfico, fornecido pelo IBGE em 2010, demonstra que as taxas de natalidade e de mortalidade no Brasil foram, respectivamente, de 12 em mil e de 6,25 em mil. A queda no índice de fertilidade se deve a vários fatores: aumento do custo de criação de filhos, maior acesso a métodos anticoncepcionais e maior índice de mulheres que passaram a trabalhar fora de casa.
As regiões do Brasil com os maiores índices de fecundidade são: Norte e Nordeste.
Entre 2000 e 2010, o crescimento populacional não ocorreu de maneira uniforme entre as regiões e os estados. As maiores taxas médias geométricas de crescimento anual ocorreram nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde a componente migratória e a maior fecundidade contribuíram para o crescimento diferencial.
As regiões mais populosas foram a Sudeste (com 42,1% da população brasileira), Nordeste (27,8%) e Sul (14,4%). Norte (8,3%) e Centro-Oeste (7,4%) continuam aumentando a representatividade no crescimento populacional. Já as demais regiões mantêm a tendência histórica de declínio em sua participação nacional.
As regiões mais populosas do Brasil, em 2010, eram:
Região | % da população do Brasil |
Sudeste | 42,1% |
Nordeste | 27,8% |
Sul | 14,4% |
Norte | 8,3% |
Centro-Oeste | 7,4% |
Os estados mais populosos do Brasil – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná – concentram, em conjunto, 58,7% da população total do País.
A Pirâmide de Idades
A pirâmide de idades é um gráfico que revela dados sobre o número de habitantes de uma cidade, estado, região ou país, distribuídos por faixa etária e gênero. Ao estudar a pirâmide de idades, é possível fazer constatações sobre a taxa de natalidade e a expectativa de uma população. Quanto maior a base da pirâmide, maior é a taxa de natalidade e a participação dos jovens no conjunto da população. Por outro lado, quanto mais estreito o topo da pirâmide, menos a expectativa de vida e a participação de idosos no conjunto da população.
A queda da taxa de fecundidade e de mortalidade no Brasil nas últimas cinco décadas mudou a estrutura etária da população. Houve uma diminuição do percentual de jovens devido à redução das taxas de natalidade, e o aumento do percentual de adultos e idosos, devido ao aumento da expectativa de vida e à redução da mortalidade. O Brasil pode ser considerado um país em transição demográfica, pois está passando de país jovem para maduro.
A representatividade dos grupos etários no total da população em 2010 é menor que a observada em 2000 para todas as faixas com idade até 25 anos, ao passo que os demais grupos etários aumentaram suas participações na última década.
Fonte: U.S. Census Bureau
Fonte: U.S. Census Bureau
Entre 1950 e 2010, o percentual de jovens no Brasil (de 0 a 14 anos) diminuiu de 42% para 25,58%. No mesmo período, o de idosos (acima de 60 anos) mais do que dobrou, passando de 4% para 9,98%. Simultaneamente, a expectativa média de vida do brasileiro passou de 46 para 73,5 anos. Ocorreu, portanto, um envelhecimento da população brasileira. Aumentou a idade mediana – a linha divisória entre os 50% mais velhos e os 50% mais novos da população. Este aumento da parcela de adultos e idosos ocorreu em todas as regiões do Brasil.
A região Norte, apesar do contínuo envelhecimento observado nas duas últimas décadas, ainda apresenta características de uma população jovem, devido aos altos níveis de fecundidade no passado.
Sudeste e Sul apresentam evolução semelhante da estrutura etária, mantendo-se como as duas regiões mais envelhecidas do País. As duas tinham em 2010 8,1% da população formada por idosos com 65 anos.
A região Centro-Oeste apresenta uma estrutura etária e uma evolução semelhantes às do conjunto da população do Brasil. O percentual de crianças menores de 5 anos em 2010 chegou a 7,6%, valor que era de 11,5% em 1991. A população de idosos teve um crescimento, passando de 3,3% em 1991, para 5,8% em 2010.
Proporção da população brasileira em dois grupos de idades - 2000
Segundo o Censo de 2010, a família brasileira diminuiu: na década de 1980, era constituída, em média, por 4,5 pessoas. Em 2010, este número havia caído para 3,37.
Outro dado interessante sobre a estrutura da população brasileira é que há mais mulheres que homens no país. Até a década de 1930, devido à imigração predominantemente masculina, havia mais homens que mulheres no Brasil. Esta relação entre o número de homens e mulheres em uma população é chamado de razão de sexo. Desde 1940, a população feminina ultrapassou a masculina, mas apenas com uma pequena diferença.
Segundo o Censo Demográfico 2010, há no Brasil uma relação de 96,0 homens para cada 100 mulheres, como resultado de um excedente de 3.941.819 mulheres em relação ao número total de homens. A região Norte é a única que apresenta o número de homens superior ao de mulheres (relação de 101,8 para cada 100).
CONCENTRAÇÃO DE RENDA - DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
O trabalho cria bens, os quais, principalmente no sistema capitalista, são medidos em dinheiro. Na economia de mercado, todo produto tem dois valores: o de uso e o de troca. O valor de uso é a sua utilização pelo consumidor. O valor de troca é o dinheiro gerado pela venda de produtos, processo no qual o comprador recebe um bem que é pago em dinheiro; o vendedor transfere, "perde", o produto e ganha dinheiro. Portanto, o comprador perde renda e o vendedor obtém renda. Essa, quando acumulada, tanto por poupança doméstica como através de aplicações financeiras, transforma-se em capital. O dinheiro é um instrumento de troca que provoca a perda ou o ganho de rendas. Capital é a reprodução do dinheiro ou da renda.
Economia de mercado - sistema econômico no qual há livre troca de mercadorias, cujos preços tendem a ser determinados pela relação entre a oferta e a procura, não havendo fixação de preços pelo governo |
No sistema capitalista, há basicamente duas formas de apropriação de rendas. Uma ocorre por meio do trabalho pago sob a forma de salário. A outra é o lucro gerado pela propriedade de indústrias, fazendas, lojas ou bancos. Aqueles que vivem do salário são os operários (proletariado), os funcionários públicos e os que trabalham em empresas de prestação de serviços (classes médias). A camada social que obtém lucros é denominada de burguesia (empresários industriais, comerciantes, financeiros e grandes fazendeiros, popularmente conhecidos como "patrões").
Essa diferenças na forma de obtenção de dinheiro provocam maneiras diversas de distribuição da renda social (o dinheiro e o capital gerados pelas atividades econômicas da sociedade inteira). Infelizmente, essa distribuição não é feita em partes iguais para cada um de nós: alguns poucos possuem a maior parcela da renda social (concentração da renda); a maioria da população fica cada vez mais pobre (depauperação crescente). Nos países desenvolvidos, a distribuição de renda social é mais igualitária que a das nações subdesenvolvidas, onde os salários são muito baixos e as camadas mais pobres dificilmente conseguem possuir qualquer tipo de propriedade. Dois outros fatores provocam a concentração de renda: a inflação e o sistema tributário do país. O fenômeno da inflação é basicamente o excesso de dinheiro em relação ao número de produtos. Há, basicamente, dois tipos de inflação:
TIPOS DE INFLAÇÃO
INFLAÇÃO DE CUSTO - ocorre quando aumentam os preços da produção (encarecimento da matéria-prima, gastos maiores para comprar equipamentos), forçando o empresário a repassar para o consumidor este aumento.
INFLAÇÃO DE DEMANDA - ocorre quando os consumidores querem mais produtos (maior demanda) e a produção, em termos quantitativos, não consegue atender o desejo de compra do público (menor oferta).
A inflação concentra renda pelo fato de que os preços dos gêneros sobem sem que esse aumento seja repassado aos salários dos trabalhadores. Nesse caso, diminui a capacidade de compra (poder aquisitivo) dos assalariados e, simultaneamente, são maiores os lucros dos empresários.
UMA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SOCIAL
A ciência e a política econômicas estão, atualmente, diante de duas alternativa opostas. Quais seriam seus objetivos: o aprimoramento dos métodos de produção e de administração, o aumento da produção com menores custos ou a elevação do nível de vida das populações? Os empresários preferem o gerenciamento mais eficiente da economia privada e pública; os mais pobres gostariam de melhor distribuição da renda social.
Nos países subdesenvolvidos, a forma mais prática de distribuir rendas é por meio da intervenção estatal na economia de mercado.
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA E A TERCERIZAÇÃO
A população economicamente ativa (PEA) é constituída por trabalhadores empregados e por desempregados que estão em busca de uma nova ocupação.
Nas últimas décadas, houve mudanças estruturais nas populações economicamente ativas no mundo. Exemplificando: o crescimento da presença feminina na força de trabalho. Tal fenômeno foi impulsionado tanto pelas reivindicações feministas como pela possibilidade de se pagar menos às mulheres.
Houve também o progressivo movimento de transferência da PEA do setor secundário para o terciário. A distribuição da população economicamente ativa (PEA) por setor de atividade não é precisa, mas é um importante indicador do desenvolvimento de um país. Quanto mais desenvolvido for um país, maior será seu setor de serviços. Este é o segmento que mais cresce e mais se diversifica na economia mundial. A terceirização, associada a esse crescimento, ocorre em todos os continentes, especialmente nas economias que mais geram empregos.
A proporção de pessoas ocupadas por setor de atividade é a relação entre o número de pessoas ocupadas em um determinado setor e o PEA.
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Trabalhadores registrados e não registrados
Os trabalhadores que fazem parte da economia formal são registrados, possuem carteira de trabalho, são protegidos pela legislação trabalhista ou aqueles que exercem profissão liberal, sendo tributados pelo governo. A eles é dada a denominação de população economicamente ativa (PEA). São também considerados ativos os desempregados, pois apenas momentaneamente desocupados, passam a procurar empregos e interferem nas flutuações do mercado de trabalho.
Na população não ativa, estão incluídos os aposentados, os jovens que ainda não trabalham e também os subempregados que obtém ou completam sua renda na economia informal, não pagando impostos. Em uma economia informal, os trabalhadores não participam do sistema tributário, não têm carteira assinada e não tem acesso aos direitos trabalhistas.
OS TIPOS DE DESEMPREGO
O desemprego continua a ser um grande problema em praticamente todo o mundo.
O desemprego é classificado em várias categorias conforme suas causas.
Ao longo da história do capitalismo, ocorreram vários surtos de desemprego: épocas em que diminuía a produção e, assim, os patrões, precisando de menos empregados, mandavam embora um determinado número deles; quando a economia voltava a crescer, pessoas, até então desocupadas, voltavam a ser contratadas. Esse fenômeno, denominado desemprego cíclico, está ligado a uma fase de queda do ciclo econômico. Nos surtos de desemprego, havia uma relação entre produção e população economicamente ativa. Em tais ocasiões, quando o desemprego aumenta ocorre a diminuição dos salários, pois há maior oferta do que procura de trabalhadores. Quando a produção aumenta, há uma tendência de aumentos salariais.
SURTO DE DESEMPREGO
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Menor produção - Mais desemprego
Maior produção - Menos desemprego
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Hoje em dia, existe um novo tipo de desemprego: o desemprego estrutural. Este se caracteriza pelo fato de que a produtividade é cada vez maior e, por sua vez, o desemprego é cada vez maior. Isto acontece pelos seguintes fatores: desenvolvimento técnico e produção sofisticada, exigindo trabalhadores extremamente qualificados e estudados. Assim, só são contratados aqueles poucos que foram beneficiados por uma educação de alto nível. Este fenômeno ocorre nos países ricos e, também, nas áreas mais prósperas das nações subdesenvolvidas. É também denominado desemprego tecnológico, pois se origina nas mudanças na tecnologia de produção – como o aumento da mecanização e automação – ou nos padrões de demanda dos consumidores: certas indústrias e profissões se tornam obsoletas à medida que surgem novas.
DESEMPREGO ESTRUTURAL
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Maior produção - Mais desemprego
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Nos países ricos, quando o desemprego é pequeno, a economia formal abrange uma grande parte da população. Nas nações subdesenvolvidas, nas quais o número de desempregados é quase sempre elevado, a população economicamente ativa tende a ser bastante menor do que o número de pessoas que vivem da economia informal. No Brasil, por exemplo, a parcela da população que trabalha é bastante grande, mas o número de empregados registrados é relativamente pequeno. Em nosso país, jovens e aposentados precisam trabalhar para aumentar a renda familiar ou complementar a pequena aposentadoria que recebem, e, assim, aceitam receber salários baixos e atividades não protegidas pela legislação trabalhista; isso é denominado desemprego disfarçado ou subemprego.
Em certas atividades, ocorre o desemprego sazonal. Esse fenômeno ocorre pelo fato de não haver, em certas profissões, oferta homogênea de emprego durante todo o ano.
Muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, EMPREGO E DESEMPREGO NO BRASIL
A Distribuição de Renda
Desigualdade econômica refere-se ao grau de diferença econômica entre ricos e pobres. Quando a diferença é grande, há muita desigualdade econômica. Quando é pequena, há pouca desigualdade econômica.
Como em outros países subdesenvolvidos, há vários motivos para o Brasil ter problemas de distribuição de renda. Em primeiro lugar, a inflação assolou o país durante tanto tempo. A inflação nunca é integralmente repassada aos salários, o que aumenta o lucro dos empresários e diminui o poder aquisitivo dos assalariados. Com a implantação do Plano Real a partir de 1994, houve controle da inflação, o que, promoveu ganhos expressivos para a população de baixa renda. Um segundo motivo é que a carga de impostos indiretos (embutidos no preço das mercadorias e serviços consumidos) é elevada. Como os ricos e os pobres pagam o mesmo valor de impostos ao comprar uma mercadoria, essa forma de arrecadação pesa mais para a população de baixa renda.
Apesar do nível de desigualdade ser muito alto no Brasil, o país conseguiu reduzi-lo significativamente na última década. Fatores responsáveis pela redução da desigualdade são o fim da inflação, o aumento da escolaridade e os programas sociais de redistribuição de renda.
Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) demonstra que na última década, a desigualdade no Brasil chegou ao nível mínimo já registro na história do país. O parâmetro é o índice Gini, que varia de 0 a 1, e quanto mais alto, maior a desigualdade. O Brasil chegou ao ápice em 1990, com 0,609. Desde então, viu queda progressiva no indicador, até chegar ao mínimo de 0,515, em 2015. Ainda é um nível de desigualdade muito alto. Contudo, é inegável que o país progrediu.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2001, o Brasil era um dos países em que a concentração de renda era extremamente desfavorável, ficando à frente apenas da África do Sul, Suazilândia e Nicarágua. Hoje, a desigualdade no Brasil vem diminuindo enquanto em outros países emergentes, como Rússia, Índia e África do Sul, vem aumentando. Contudo, segundo a Organização das Nações Unidas, em 2015, o Brasil era o décimo país com maior desigualdade no mundo.
Apesar do nível de desigualdade ser muito alto, o Brasil progrediu muito. Segundo o estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a renda da metade mais pobre da população aumentou 5,5 mais rápido que a da minoria mais rica do Brasil. O estudo também mostrou que a pobreza caiu 67,3% desde o início do Plano Real, em 1994, até 2010.
Em 1983, praticamente um em cada dois brasileiros se encaixava no critério de pobre. Hoje, é um em cada quatro. Segundo um estudo da Organização das Nações Unidas, entre 2004 e 2013, os índices de pobreza no país caíram de 20% para 9% da população e de 7% para 4% no caso da pobreza extrema.
Contudo, ainda há enormes desigualdade sociais, regionais e interestaduais. Grande é a desigualdade na distribuição de renda entre as regiões brasileiras. As regiões Norte e Nordeste continuaram a apresentar um padrão mais desigual dos que as demais regiões e com os maiores níveis de pobreza. Por exemplo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2015, o rendimento médio mensal da região Sudeste foi de R$ 2.116,00, comparado com R$ 1251,00 da região do Nordeste. Em 2013, o Nordeste tinha 10,50% da sua população abaixo da linha da extrema pobreza, comparado a 2,15% no Sul e 2,45% no Centro-Oeste. A média nacional era de 5,2%. No estado do Maranhão, 17,2% das pessoas vivem na extrema pobreza.
A pobreza no Brasil está mais concentrada no Norte e no Nordeste e é mais presente no meio rural. O aumento de renda na cidade é maior do que no campo.
Essas disparidades regionais se devem a uma combinação de fatores: clima, processo histórico, políticas governamentais, migrações estrangeiras e recursos naturais. Há também grandes discrepâncias entre as zonas rurais e urbanas.
Atividades Econômicas
Até a década de 1940, mais de dois terços da população brasileira trabalhava no setor primário. Desde então, devido à industrialização e urbanização e ao êxodo rural, houve uma forte queda na população ativa nesse setor. Em 1999, apenas 19,0% da PEA (população economicamente ativa) trabalhava no setor primário. Ao mesmo tempo, a população economicamente ativa dos setores secundário e terciário era de 81%. Em 2016, o setor terciário empregava 50,2% da população economicamente ativa do Brasil. (A fórmula PEA é formada pelos trabalhadores empregados mais os desempregados que estão em busca de nova ocupação).
Em termos regionais, em 2008 a Região Sudeste detinha 43,3% da população economicamente ativa do Brasil, seguida pelas regiões Nordeste (26,0%), Sul (15,9%), Centro-Oeste (7,4%) e Norte (7,4%).
O emprego informal, o emprego formal e o aumento do poder aquisitivo
À medida que a população cresce, cresce também a pressão por novos postos de trabalho. A fórmula da população economicamente ativa (PEA) é formada pelos trabalhadores empregados mais os desempregados que estão em busca de nova ocupação. É importante ressaltar a fórmula da PEA inclui apenas os trabalhadores da economia formal, ou seja, os trabalhadores registrados.
Em 2015, apenas 59,6% dos trabalhadores do Brasil tinham carteira de trabalho assinada. O trabalhador informal, sem carteira assinada, não tem direito à aposentadoria e ao Auxílio-Doença. Também não tem garantido licença maternidade, férias e outros benefícios. O problema do emprego informal no Brasil é, em grande parte, consequência dos altos encargos trabalhistas.
Uma forma de aumentar a taxa de empregos formais no Brasil é investir na educação e escolarização da população. O emprego com carteira assinada é fundamental para que os trabalhadores brasileiros possam viver com mais estabilidade financeira e contar com um futuro mais seguro. A formalização do trabalho também garante ao trabalhador uma renda mensal não inferior ao salário mínimo e certa proteção caso haja perda de emprego, acidente de trabalho, gravidez, doença e incapacidade.
Na última década, o mercado de trabalho no Brasil tem apresentado indicadores positivos. Houve aumentos tanto no número de empregos formais como na renda média do trabalhador. Além disso, o crescimento da economia formal leva a uma maior arrecadação de impostos pelo governo, o que permite que mais investimentos sejam feitos no país.
O Estado Brasileiro também desempenha um forte papel de empregador. O Estado emprega aproximadamente 10 milhões de pessoas: dessas, seis milhões são funcionários municipais, três milhões são estaduais e 1,1 são federais.
Durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil adotou uma política de valorização do salário mínimo que virou lei em 2011 durante o governo da presidente Dilma Rousseff.
A política de valorização do salário mínimo foi um acordo firmado entre sindicalistas, empresários e o governo. A base de cálculo para o salário é a inflação do período anterior mais a variação do PIB dos dois anos anteriores. Vale lembrar que no Brasil, o salário mínimo vale para todo o território nacional e que nenhum trabalhador pode ser pago um salário inferior ao mínimo estabelecido por lei.
A valorização do salário mínimo, os programas governamentais de transferência de renda e a expansão e o barateamento de crédito resultaram na elevação do poder aquisitivo do cidadão brasileiro. Nos últimos anos, dezenas de milhões de brasileiros têm ascendido socioeconomicamente.
Nos últimos anos, observa-se um contínuo e progressivo movimento de transferência da PEA do setor secundário para o terciário. O IBGE informou, na Síntese de Indicadores Sociais de 2013, que o segmento com maior peso na atividade econômica brasileira é o que possui o maior número de empregos precários no Brasil: o segmento de serviços emprega 43% das 13,9 milhões de pessoas que ainda trabalham sem carteira assinada. Mais de 66% das mulheres que ainda trabalham sem carteira assinada estão empregadas no segmento de serviços.
É importante ressaltar que há um grave problema estrutural no mercado de trabalho brasileiro: a falta de mão de obra especializada.
MIGRAÇÕES - MOVIMENTOS POPULACIONAIS
As migrações são as mudanças de populações de uma região para outra, de um país para outro ou do campo para a cidade (êxodo rural).
As migrações podem ser internas - quando ocorrem dentro do mesmo país ou região – ou internacionais– quando pessoas imigram de um país para outro.
Alguns dos deslocamentos populacionais mais frequentes são:
- Migração rural-rural: ocorrem de uma área agrícola para outra. Esse tipo de migração engloba a transumância: os trabalhadores rurais que se deslocam constantemente em busca de trabalho, como os "boias-frias", que são trabalhadores itinerantes.
A transumância, ou migração sazonal, é o movimento populacional que ocorre em determinadas épocas do ano e que sempre se repete. - A migração pendular (movimento pendular), ou migração diária, que ocorre nos grandes centros urbanos, constituem a deslocação de trabalhadores de sua residência até o local de trabalho, que geralmente se localiza a uma distância significativa de onde moram. Muitas pessoas não trabalham nem estudam no município de sua residência.
- O êxodo rural é o deslocamento populacional de áreas rurais para áreas urbanas.
- A migração intra-urbana é um deslocamento populacional de curta distância – de uma cidade para outra.
- O nomadismo é a prática em que pessoas não têm habitação fixa e vivem mudando de residência. Na Ásia e no norte da África, é comum encontrar pastores nômades.
- A migração de retorno é o regresso dos imigrantes à região ou ao país de origem. Por exemplo, graças à crise econômica ocorrida nos Estados Unidos em 2007, muitos brasileiros que residiam em território norte-americano retornaram ao Brasil. Esse fenômeno ocorreu no Nordeste do Brasil: muitos nordestinos que haviam migrado para outras regiões do Brasil regressaram ao seu lugar de origem.
A procura por melhores condições de vida impele muitas pessoas a abandonarem seu lugar de origem e a partir para outros lugares, mesmo que sejam desconhecidos. Inúmeras são as causas do deslocamento de pessoas entre as várias regiões do planeta:
- econômicas - a mais importante ao longo da história;
- político-ideológicas;
- desastres naturais;
- conflitos militares;
- religiosa.
As migrações humanas são feitas de áreas de repulsão populacional, onde há pobreza, baixos salários, desemprego e subemprego, fome, guerras e desastres naturais para regiões de atração populacional, onde há melhores condições de vida, condições de emprego, salários mais altos, paz e segurança.
Os deslocamentos populacionais impactam o lugar de origem e o de destino das ondas migratórias. O imigrante pode adentrar um país de forma legal ou ilegal. Ele pode ser um refugiado ou um requerente de asilo.
Os principais tipos de movimentos populacionais são:
TIPOS DE DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS
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espontâneos - deslocamentos voluntários
forçados - motivados por perseguições políticas, étnicas ou religiosas
tutelados - países que controlam a entrada de pessoas
por interesses econômicos dos países desenvolvidos - nações economicamente prósperas que necessitam de mão de obra de alta especialização para determinados setores tecnológicos
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Exemplos de deslocamentos espontâneo são a ida de turcos, gregos e habitantes do leste europeu para a Europa ocidental, principalmente para a República Federal da Alemanha, em busca de trabalho e melhores salários; na segunda metade do século XIX e no início do século XX, o Brasil recebeu italianos, espanhóis, japoneses, árabes, além de outras etnias, que aqui esperavam encontrar melhores condições de vida.
A diferença de nível de vida incentiva milhares de habitantes de países pobres a buscar novas oportunidades de trabalho em países ricos.
As guerras étnicas da África e os conflitos políticos e guerras no Oriente Médio são expressões dos deslocamentos forçados.
Os Estados Unidos da América, as Nações da Europa ocidental e até mesmo o Brasil controlam e policiam a entrada de imigrantes. Já o atual interesse da República Federal da Alemanha em trazer técnicos indianos especializados em Informática é um belo exemplo de interesse econômico por parte de uma nação desenvolvida.
As migrações provocam consequências demográficas, sociopsicológicas e culturais.
CONSEQUÊNCIA DEMOGRÁFICA
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Nas zonas de repulsão populacional diminui a população; nas de atração, cresce o número de habitantes.
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CONSEQUÊNCIA SOCIOPSICOLÓGICA
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Abalos psicológicos e morais sofridos pelas famílias e comunidades que, ao migrarem, perdem suas raízes culturais e relações de amizade.
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CONSEQUÊNCIA CULTURAL
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A mistura de línguas, religiões, hábitos, culinária, etc. Essa troca cultural (aculturação) tem os aspectos positivos da eliminação de preconceitos entre as diversas etnias e o enriquecimento cultural de todas as comunidades postas em contato.
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É lamentável que no final do século XX e no começo do XXI, período que deveria ser pela tolerância entre os povos, o mundo tenha assistido, cada vez mais, lutas entre comunidades, tais como os massacres praticados pelos indonésios no Timor Leste ou, na África Negra, o recente genocídio levado a efeito pela tribo dos Hutus sobre os Tutsis. Tais conflitos causam grandes deslocamentos de pessoas.
A mobilidade humana constitui motivo de preocupação: gera amplos debates sobre política, economia e segurança nacional.
Regiões de repulsão populacional
São muitas as razões que levam as pessoas a deixar seu país de origem.
A África, a Ásia, o Oriente Médio e a América Latina são regiões de maior repulsão populacional. Na Ásia e a África, há áreas extremamente pobres. Isso resulta em uma repulsão populacional significativa. Além disso, certas regiões nesses continentes – especialmente no Oriente Médio – são palco de guerra. Alguns países asiáticos e africanos constituem refúgio para grupos terroristas.
Áreas de repulsão populacional sofrem um fenômeno denominado “fuga de cérebros”: a saída de pessoas com alto nível educacional que imigram para países ricos e desenvolvidos. “Fuga de cérebros” constitui perda de talento, pois pessoas bem preparadas frequentemente buscam melhores condições de trabalho e de vida e mais oportunidades no exterior. Isso agrava o cenário de países com alta repulsão populacional, que já contam com pouca mão de obra qualificada.
Regiões de atração populacional
Os Estados Unidos e a Europa Ocidental são as grandes regiões de atração populacional.
As fronteiras não estão abertas às pessoas. A mundialização da economia abre as fronteiras nacionais para mercadorias e capitais, mas os países continuam a erguer barreiras contra a imigração, restringindo a mobilidade populacional.
Quando a migração legal é muito restringida, cresce a ilegal – a procura por meios não convencionais de entrar em certo país. Imigrantes ilegais tomam grandes riscos para chegar aos seus destinos e frequentemente acabam caindo na clandestinidade, não possuindo documentos para trabalhar na economia formal de seu novo país. Consequentemente, assumem trabalho pesado com baixa remuneração e vivem em bairros afastados. Por serem imigrantes ilegais, ficam sujeitos a incertezas e discriminações e acabam por integrar marginalmente a força de trabalho, o que se transforma, em alguns casos, em escravidão.
Em crises econômicas, cresce o preconceito contra estrangeiros, fomentado pela crença de que as pessoas e os produtos vindos de fora são os responsáveis pelas crises da economia e pelo desemprego. Os imigrantes são frequentemente vítimas da xenofobia - o medo irracional, a aversão e até mesmo o ódio em relação a estrangeiros.
Os Estados Unidos
Os Estados Unidos constituem o país que atrai o maior número de imigrantes do mundo.
Em 2015, os Estados Unidos contavam com mais de 43 milhões de imigrantes. Há aproximadamente 11 milhões de imigrantes ilegais morando no país: o maior grupo deles origina da América Latina. Estima-se que 6.2 milhões de imigrantes ilegais sejam mexicanos.
Os hispânicos constituem a maior minoria dos Estados Unidos.
A cada ano, um milhão de imigrantes legais são aceitos pelos Estados Unidos como residentes permanentes. Não há nenhum país que aceita tantos imigrantes legais. Contudo, a política de aceitar tantos imigrantes, de todas as partes do mundo, gera xenofobia – fenômeno que veio à tona na mais recente eleição norte-americana, na qual o republicano Donald Trump foi eleito presidente. Um dos principais motivos pela ascensão de Donald Trump nas pesquisas – que culminou com sua vitória na eleição presidencial – foi um discurso no qual ofendeu os imigrantes ilegais mexicanos que residem nos Estados Unidos. Trump os caracterizou de “criminosos, traficantes de drogas e estupradores”. Por meio desse discurso e de outras declarações feitas durante a campanha presidencial, Donald Trump deu uma voz para os nacionalistas, os racistas e os xenófobos de seu país.
Em recentes debates nos Estados Unidos sobre imigração, discute-se a necessidade do cumprimento das leis e regulamentos referentes à imigração ilegal. Também se discute a proposta de construir uma barreira ao longo da fronteira de 3.200 km entre os Estados Unidos e o México. O objetivo dessa fronteira é minimizar o fluxo de imigrantes ilegais entre os dois países. Em relação ao tema imigração, que gera muita polêmica nos Estados Unidos, o ex-presidente George W. Bush declarou, "Somos uma nação de imigrantes. Mas também uma nação da lei".
Durante a campanha, Trump prometeu construir um muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México. O objetivo do muro seria prevenir que mexicanos adentrassem o território norte-americano ilegalmente. Trump afirmou, repetidamente, que o México teria de pagar pela construção do muro. É importante ressaltar que parte do muro – 700 milhas das duas mil necessárias – foram construídas por seus antecessores – o democrata Barack Obama e o republicano George W. Bush.
Muro na fronteira entre os Estados Unidos e o México
Vale ressaltar que nas últimas décadas, uma das respostas aos problemas gerados por movimentos migratórios é a construção de muros fronteiriços. A política por trás da construção de muros é o conceito de que a segurança e a proteção de um país não podem ser asseguradas senão pelo fechamento físico de fronteiras e territórios.
Europa
A Europa é o lar do maior número de migrantes de todas as regiões do mundo. Em 2015, a União Europeia (UE) teve um ganho líquido global de imigração de 1.9 milhão de pessoas, apesar de possuir uma das maiores densidades do mundo. Em janeiro de 2016, a UE contava com 35 milhões de imigrantes. As imigrações representam quase todo o crescimento populacional do continente europeu.
Atualmente, devido à relativa recessão econômica, ao aumento do desemprego e ao aumento de ataques terroristas, esses imigrantes vêm sendo hostilizados e marginalizados, notadamente na França, na Alemanha e na Inglaterra. Imigrantes são frequentemente vítimas de racismo e xenofobia. São vítimas de xenofobia os africanos no norte da França, os indianos e paquistaneses no Reino Unido, os turcos na Alemanha e os refugiados sírios.
Nos últimos anos, os governos europeus tomaram medidas repressivas para conter o fluxo de imigrantes ilegais. Imigração é um tema recorrente em campanhas eleitorais. Isso se evidenciou no referendo a respeito do Brexit, na Grã-Bretanha, e nas eleições de 2017 na França, entre Marie Le Pen, candidata xenofóbica, e Emmanuel Macron. Marie Le Pen prometeu que se fosse eleita, colocaria um fim à imigração na França e expulsaria do país todos os imigrantes ilegais. Apesar de ter sido derrotada por Emmanuel Macron, Le Pen, que chegou ao segundo turno das eleições, obteve apoio de uma parcela significante dos eleitores franceses.
O fenômeno da imigração se tornou mais polêmico e até mais grave devido à crise dos refugiados da África e do Oriente Médio.
MIGRAÇÃO INTERNA NO BRASIL
Os movimentos populacionais que ocorrem dentro de um país são denominados de migrações internas.
Migrações internas ocorrem quando pessoas migram de áreas de repulsão para áreas de atração dentro do mesmo país.
Áreas de repulsão de população
São áreas que perdem população em consequência de diversos fatores: estagnação econômica, utilização de tecnologia na agricultura dispensando um grande número de trabalhadores, concentração fundiária, etc.
Áreas de atração de população
São áreas que recebem população de outras áreas. A atração é exercida por vários fatores, entre eles, melhor oferta de emprego, maior facilidade de acesso a terra etc.
Os principais movimentos populacionais internos são:
- migrações inter-regionais
- êxodo rural
- migrações pendulares nas grandes cidades
Migrações inter-regionais
A maior parte da população brasileira está concentrada na faixa leste do país. Nas últimas décadas, houve forte movimentação demográfica em direção às cidades de porte médio, principalmente nos estados do Centro-Sul brasileiro.
Os movimentos inter-regionais foram numerosos e deverão continuar desde que persistam no Brasil grandes desigualdades regionais.
As migrações pelo território brasileiro, que estudaremos a seguir, foram causadas principalmente por fatores econômicos.
Séculos XVI e XVII
O ciclo da cana-de-açúcar, a necessidade de criação de gado para prover os engenhos com força motora, a alimentação dos colonos e o desenvolvimento dos meios de transporte fizeram com que muitos colonos migrassem para o agreste e o sertão nordestino. Essas migrações, que ocorreram devido ao surgimento de novas oportunidades de trabalho, resultaram no povoamento de parte do sertão nordestino.
1690
Movimento migratório marcado pelo Ciclo da Mineração. As áreas de atração foram Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, que receberam contingentes expressivos de migrantes.
1860-1930
Com a evolução da cultura cafeeira no oeste Paulista e, em seguida, no norte do Paraná, houve uma retomada da migração oriunda do Nordeste e de Minas Gerais, em busca de emprego e de melhores salários.
1870-1919
A Amazônia também se tornou um polo de atração em consequência da exploração da borracha, principalmente no Acre. O principal contingente foi o de nordestinos. Foi assim que começou, de fato, o povoamento da Amazônia.
1935-1940
Houve um afluxo de migrantes da Bahia e de Minas Gerais para São Paulo, devido ao surto algodoeiro que marcou a economia desse estado logo após a crise do café no início da década de 30.
1942-1945
Retomada da imigração nordestina em direção à Amazônia; foi a chamada "Batalha da Borracha".
Pós 1950 - Movimentos inter-regionais recentes
Nordeste - Sudeste
Foi a industrialização do Sudeste, sobretudo do Rio de Janeiro e São Paulo, que serviu de atração para grandes grupos de nordestinos. Porém, a partir da década de 70, devido ao processo de descentralização da atividade industrial, a migração em direção ao Sudeste apresentou uma queda considerável.
Em direção ao Centro-Oeste e Amazônia
Com as políticas de ocupação da Amazônia e a ampliação da fronteira agropecuária, as "Frentes Pioneiras" avançaram em direção ao Centro-Oeste e à Amazônia, para onde têm se dirigido principalmente contingentes do Sul do país.
A partir da década de 1950, o governo federal, por meio de projetos de desenvolvimento regional, passou a estimular a ocupação de grandes áreas de cerrado e da floresta Amazônica. Durante a ditadura militar brasileira, a região amazônica era vista pelos militares como um imenso vazio demográfico que deveria ser ocupado, como forma de garantir a soberania do Estado brasileiro sobre o seu território. O governo, com o objetivo de desenvolver essa região e integrá-la ao restante do país, criou inúmeros incentivos para que milhões de brasileiros passassem a habitá-la. O governo investiu em estradas, na construção de usinas hidroelétricas e em vários programas de desenvolvimento para estimular a ocupação dessa região.
Nas décadas de 1970 e 1980, a região Centro-Oeste apresentou um grande crescimento demográfico. Isso ocorreu graças aos grandes fluxos migratórios advindos principalmente da região Sul, onde as oportunidades de emprego haviam sido reduzidas devido à modernização agrícola e à concentração fundiária.
A ocupação das terras amazônicas ocorreu em proximidade aos grandes rios e às cidades. Nos últimos anos, as taxas de crescimento urbano da Amazônia foram bastante elevadas, com a maioria da população da região vivendo em cidades.
A construção de Brasília (1956-1960) constituiu área de atração, principalmente para nordestinos. A construção de Brasília representa um marco importante na ocupação do centro-oeste brasileiro. A partir da década de 1960, foram construídas grandes rodovias que passaram a ligar a região ao restante do país. Isso impulsionou a ocupação da região e transformou o cerrado em área de grande produção agropecuária.
Na década de 1980, o fluxo mais intenso passa a ser no sentido Sul (PR e RS) em direção ao Centro-Oeste e Norte. Exemplos:
- frentes pioneiras para Rondônia - imigrantes do Paraná e Rio Grande do Sul;
- deslocamentos para regiões auríferas (Serra Pelada, Maria Bonita, etc)
A diferenciação migratória inter-regional decorre predominantemente de reflexos da conjuntura política e econômica.
Grandes Fluxos Emigratórios do Nordeste
A - Construção de Brasília
B - Indústria de SP e RJ
1 - Mineração - Século XVIII
2 - Extração da Borracha - 1870/1912
3 - Marcha do Café - Frentes Pioneiras
4 - Surto Algodoeiro Paulista - 1935/1940
5 - Construção da Transamazônica
B - Indústria de SP e RJ
1 - Mineração - Século XVIII
2 - Extração da Borracha - 1870/1912
3 - Marcha do Café - Frentes Pioneiras
4 - Surto Algodoeiro Paulista - 1935/1940
5 - Construção da Transamazônica
IMIGRAÇÃO NO BRASIL
A população brasileira é formada por descendentes de imigrantes e por membros de tribos indígenas que sobreviveram ao genocídio português. Atualmente, a população indígena corresponde a aproximadamente 0,2% da população brasileira. Todos os outros brasileiros - 99,8% da população - são descendentes de imigrantes.
Os primeiros imigrantes foram os portugueses e os negros africanos. Estes foram trazidos à força para o Brasil. Outras nacionalidades se incorporaram à população brasileira, com mais intensidade, a partir de 1850.
De 1850 até os dias de hoje, vieram para o Brasil imigrantes de diversas nacionalidades: alemães, italianos, espanhóis, japoneses, coreanos, libaneses, judeus de diferentes procedências, bolivianos, argentinos, paraguaios, peruanos, etc. A cultura do Brasil é uma mescla das contribuições das diferentes nacionalidades que constituíram a população brasileira.
Nas últimas duas décadas, retoma-se no Brasil um maior fluxo de migrações internacionais, tanto com a saída de brasileiros como com a entrada de pessoas de outras nacionalidades no país.
Imigração - entrada e mudança de país de pessoas que originam de um outro país Emigração- membros de uma população saem de um país para viver em outro |
Histórico da Imigração no Brasil
A história da composição e formação da população brasileira é marcada por diversos movimentos de imigração.
De 1500 a 1808
A imigração para o Brasil iniciou-se em 1530 com as capitanias hereditárias e o começo da lavoura de cana de açúcar. O litoral do Brasil foi inicialmente povoado por portugueses e escravos negros.
Entre 1550 a 1850, estima-se que 4 milhões de escravos negros foram trazidos à força para o Brasil. Nesse mesmo período, os imigrantes livres eram portugueses. (Não se sabe quantos imigrantes portugueses vieram ao Brasil.)
Durante o período colonial, ocorreram também invasões estrangeiras de franceses, holandeses e britânicos. Porém, esses estrangeiros não se fixaram no País, pois foram expulsos pelos indígenas e pelos portugueses.
De 1808 a 1850
A história da imigração livre para o Brasil iniciou, de fato, no dia 25 de novembro de 1808: D. João VI assinou um decreto que permitia que estrangeiros possuíssem terras no Brasil. Até então, apenas portugueses tinham o direito de entrar livre no Brasil. A imigração livre passou a ser significativa apenas no final do século XIX e início do século XX.
O pequeno fluxo imigratório nesse período justifica-se principalmente pela facilidade de obtenção de mão de obra escrava. Praticamente não havia empregos para imigrantes livres.
De 1850 a 1930
O segundo período caracteriza-se pela maior entrada de imigrantes no Brasil. Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz proibiu o tráfico negreiro, dificultando a obtenção de mão de obra escrava. Em 1888, a Lei Áurea aboliu a escravidão no País.
O aumento significante na imigração ocorreu por vários fatores: a necessidade crescente de mão de obra em função do desenvolvimento das atividades cafeeiras, o começo de atividades industriais, a facilidade de acesso à posse de terra na Região Sul e a ocupação efetiva das terras do Brasil meridional.
O governo brasileiro buscou incentivar a imigração de europeus para suprir a necessidade de mão de obra. O governo fez propaganda na Europa, anunciando que financiaria o custo de viagem de imigrantes para o Brasil e garantiria emprego, moradia, alimentação e pagamento anual de salários. Mas a propaganda era enganosa. Após chegar no Brasil, ao final de um ano de trabalho nas lavouras, o imigrante recebia seu salário, mas não era o suficiente para pagar seus custos de moradia, de transporte (embora a propaganda governamental havia prometido que seria gratuito) e de alimentação. Os imigrantes ficavam presos - tornando-se semiescravos - até a quitação da dívida.
Destaca-se nesse período a entrada no Brasil de italianos, alemães, espanhóis e japoneses.
De 1930 até 1980
Em 1929, com a crise econômica mundial e o Brasil sendo afetando por ela, diminuiu drasticamente as imigrações para o Brasil.
Após 1930, a imigração passou a declinar. Contribuiu para esse declínio a Lei de Cota, criada a partir do governo ditatorial de Getúlio Vargas (1934). A Lei de Cota restringia a entrada de imigrantes no Brasil, com exceção de portugueses. As restrições eram numéricas e ideológicas; a entrada de anarquistas, por exemplo, não era permitida. Além disso, o governo forçava 80% dos imigrantes a trabalhar na zona rural.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial até o início da década de 1970, ocorreu no Brasil um grande crescimento econômico, tornando o País novamente um polo de atração populacional. O crescimento econômico resultou num aumento de imigrantes.
A tabela a seguir mostra que no final do século XIX e início do século XX, as migrações externas tiveram um importante impacto sobre o crescimento da população brasileira.
Comparação entre as Dinâmicas
Período |
Migração líquida
|
Crescimento natural
|
1872/1890
|
570.226
|
3.651.000
|
1890/1900
|
903.000
|
2.962.000
|
1900/1920
|
939.000
|
8.360.000
|
1920/1940
|
859.000
|
12.893.000
|
1940/1950
|
107.000
|
10.600.000
|
1950/1960
|
586.000
|
17.436.000
|
1960/1970
|
197.000
|
23.335.000
|
1970/1980
|
185.000
|
25.000.00
|
Fonte: Anuário Estatístico do IBGE
De 1980 – até os dias de hoje
Nas últimas décadas, houve um afluxo de imigrantes.
No contexto da América Latina, o Brasil, até a década de 1970, era uma área de evasão populacional para os países vizinhos, especialmente para o Paraguai e a Argentina. A partir da década de 1980, porém, o Brasil passou a ser uma área de recepção migratória de latino-americanos.
A partir da década de 1990, graças à estabilização da sua moeda e ao crescimento da sua economia, o Brasil voltou a atrair imigrantes. Desde então, houve uma maior projeção do Brasil no exterior. Esses fatores, além das restrições impostas à entrada de imigrantes na Europa e nos Estados Unidos, causaram com que mais estrangeiros – coreanos, chineses e latino-americanos – decidissem imigrar para o Brasil.
Embora o saldo migratório atual ainda favoreça a emigração, a imigração vem crescendo. Acredita-se que aproximadamente 1,8 milhão de estrangeiros vivem no Brasil. Esse número é baixo quando se considera o número de habitantes no país. Contudo, a concentração de alguns grupos de imigrantes em certas cidades brasileiras acentua a relevância da migração na sociedade brasileira.
Muitos desses imigrantes são clandestinos e, sem a documentação necessária para serem legalizados, ficam sujeitos a condições precárias. Constituem mão de obra barata, às vezes até escravizada. Esses imigrantes, como muitos imigrantes brasileiros em outros países, sofrem preconceito e dificuldades de se estabelecerem econômica e socialmente. Exemplificando: a indústria de confecção em São Paulo costuma empregar bolivianos, peruanos e colombianos. Muitos deles trabalham em condições precárias: são semiescravos.
O Brasil também conta com a entrada de fluxos imigrantes de mão de obra qualificada. Estes originam principalmente da Argentina e do Chile e geralmente escolhem viver na metrópole de São Paulo.
A crise na Venezuela resultou em um grande deslocamento populacional em direção ao Brasil. Nos anos de 2015 e 2016, 77 mil venezuelanos adentrar o Brasil, em busca de alimentos, remédios e melhores condições de vida. Em 2017, foram mais de 17 mil pedidos de asilo ao Brasil.
O Brasil é conhecido como um país que acolhe imigrantes. Contudo, o governo brasileiro não está estruturado para receber muitos imigrantes e refugiados. Consequentemente, muitos deles acabam vivendo nas ruas ou em albergues. O Brasil não tem controle de quem adentra o país nem mantém informações centralizadas a respeito do país de origem ou da idade de tais pessoas. Assim, não se sabe ao certo quantos refugiados se encontram no Brasil.
Em 2017, aprovou-se no Brasil uma nova Lei de Migração. Esta facilita o acolhimento de refugiados e garante os direitos do estrangeiro. A lei também visa a evitar que estrangeiros sofram discriminação. A lei concede aos imigrantes uma série de direitos: acesso aos serviços públicos de saúde, à educação, à Previdência Social e ao mercado de trabalho.
OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL
Pré-História e os povos indígenas no Brasil
Até o final dos anos 1970, arqueólogos norte-americanos acreditavam que a América do Norte havia sido povoada, há mais de 15.000 anos, por bandos de caçadores provenientes da Ásia. De acordo com essa teoria, esses bandos, em busca de caça, teriam atravessado o estreito de Bering – entre a Sibéria, na Rússia, e o Alasca, nos Estados Unidos. Naquela época, devido ao fenômeno da glaciação, esse estreito formava uma ponte de gelo. Dali, os grupos de caçadores teriam se espalhado por todo o continente americano, até chegar ao Brasil, há cerca de 12.000 anos.
Essa teoria foi muito questionada por arqueólogos que afirmam que o povoamento do continente americano ocorreu em um passado muito mais distante. Por exemplo, foram descobertos no Piauí vestígios de presença humana que datam de, no mínimo, 32.000 anos. Algumas descobertas revelam que esse tempo pode chegar a 56.000 anos. Pesquisas conduzidas em Goiás revelaram a existência de restos de moluscos e de carvão que chegam a 43.000 anos.
Fora do Brasil, descobertas arqueológicas indicam que a ocupação humana do continente americana é mais antiga do que se estimava. No Alasca, as descobertas revelam a presença do homem há aproximadamente 37.000 anos e no Chile, 33.000 anos. Isso indica que os primeiros caçadores asiáticos passaram pelo estreito de Bering há 70.000 anos, não 18.000.
Há, porém, outra hipótese, pesquisada por cientistas da Universidade do Pará: a de que a América do Sul foi povoada por nativos das ilhas do Pacífico. De acordo com essa teoria, há algumas dezenas de milhares de anos, eles atravessaram o oceano em pequenas embarcações até alcançar a costa sul-americana.
Descobertos de sítios arqueológicos no Brasil
No município de São Raimundo Nonato, no estado do Piauí, Niède Guidon e sua equipe de arqueólogos brasileiros e franceses descobriram pedaços de carvão de fogões pré-históricos, fragmentos de instrumentos de pedras, pinturas rupestres e restos de cerâmica. Por meio dessas descobertas, arqueólogos e pesquisadores tentam reconstituir a história dos primeiros habitantes do território brasileiro.
Os achados mais antigos datam de quase 50.000 anos. Indicam que, naquela época, o homem vivia em pequenos bandos de caçadores e coletores nômades. Viviam exclusivamente da caça e da coleta de frutas e raízes. Caçavam principalmente animais de grande porte. Os fósseis de animais encontrados junto aos vestígios humanos do Piauí são de cavalos, tatus gigantes, lagartos e capivaras.
O clima da região era úmido. Os fósseis de plantas revelam que essa região do Nordeste brasileiro, que é atualmente desértica, era recoberta por uma densa floresta tropical.
Há cerca de 17.000 anos, os homens que aí viviam começaram a fazer pinturas nas paredes de seus abrigos naturais. As pinturas representavam animais, plantas e atividades humanas: a caça, a guerra, o nascimento e as festas.
Por volta de 3.000 anos atrás, os antigos habitantes do Piauí descobriram a agricultura e a cerâmica. Eles se organizaram em comunidades permanentes, semelhantes às aldeias indígenas que os portugueses encontraram quando chegaram ao Brasil.
Os antigos povoamentos indígenas no Brasil
Por volta de 8.000 anos atrás, caçadores e coletores abandonaram suas cavernas e, acompanhando a expansão natural da floresta Amazônica, passaram a cultivar plantas típicas daquele meio.
Há aproximadamente 3.000 anos, surgiram as sociedades pré-históricas de Santarém, no estado do Pará, e, alguns milênios mais tarde, na ilha de Marajó. Desses povos, os marajoara – um povo constituído por aproximadamente 100 mil pessoas – foram os que apresentaram as criações mais importantes. Acredita-se que chegaram à ilha de Marajó por volta do ano 400 e que se fixaram em sua parte centro-oeste. Os espaços que ocuparam foram divididos em áreas para casas, oficinas de trabalho e cemitérios.
Os vasos de cerâmica dos marajoara, decorados com pinturas de cores variadas, foram difundidos por toda a Amazônia. A cultura marajoara desapareceu por volta do ano 1350 – antes da chegada dos portugueses ao Brasil. Acredita-se que tenham sido expulsos ou absorvidos por outros povos.
Há cerca de dois mil anos atrás, viveu em áreas entre os estados de São Paulo e Rio Grande do Norte, um povo conhecido como os aratus. Eles conheciam a tecelagem e foram os originários dos atuais bororos, caiapós e xavantes.
No Sul do Brasil, destacaram-se os itararés – um povo ceramista e agricultor que construía habitações subterrâneas para se proteger do frio. Em Santa Catarina foram encontrados alguns remanescentes dos xoclenques – um povo descendente dos itararés.
Os povos pré-históricos do Oeste paulista
Os arqueólogos acreditavam que, em uma época em que houve aquecimento do clima, o homem brasileiro migrou do Norte e Nordeste do país para povoar o Sul.
Uma das regiões de atração dessa migração foi a bacia do rio Paranapanema, no estado de São Paulo. Entre 10.000-7.000 anos atrás, grupos de caçadores e coletores percorreram a região: ocuparam os morros nos períodos de chuva e os vales nos períodos de seca.
Por volta de 5.000 anos atrás, essas populações se deslocaram para o vale do rio Tietê. Nas comunidades do Tietê, os homens se dedicavam à caça e à produção de armas – pontas de lanças e fleches feitas de pedras lascadas. As mulheres coletavam raízes e coquinhos e preparavam os alimentos em fogões de pedra.
Cerca de 4.000 anos mais tarde, os povos que ocupavam o Oeste paulista aprenderam a trabalhar com cerâmica. O barro que advinha dos rios era utilizado para confeccionar potes e urnas funerárias. Foram os ancestrais dos indígenas que deram os nomes dos atuais municípios da região: Sarutaiá, Piraju, Tejupá, Narandiba e Itapeva.
Os indígenas foram exterminados pelos bandeirantes no início do século XVII.
Os indígenas do litoral
Há aproximadamente 8.000 anos, os povos do interior do Brasil chegaram ao litoral. Nessa época, houve o rebaixamento do nível do mar, que facilitou a fixação desses povos ao longo da costa, pois passou a haver peixes e moluscos em abundância, além da caça e coleta.
As populações das comunidades litorâneas se alimentavam principalmente de peixes, ostras, mexilhões e mariscos, além de carne, frutos e raízes. Com o passar do tempo, as milhões de cascas de ostras, mexilhões e mariscos descartados formaram pequenas montanhas, onde tais povos construíram cabanas e enterraram os mortos.
Esses montes são denominados sambaquis – palavra de origem indígena que significa “colina de conchas”. A maioria deles mede entre cinco e seis metros de altura, mas alguns chegavam a medir 30 metros. Nos sambaquis – verdadeiros tesouros para os arqueólogos – foram encontrados armas, ferramentas, instrumentos, sepulturas e esqueletos humanos. Os sambaquis são uma fonte de informação sobre o modo de vida dos antigos habitantes do litoral brasileiro. Infelizmente, a maioria deles foi destruída pelos colonizados europeus e transformada em cal para construção.
Os sambaquis se concentram no litoral sul, entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Sabe-se que essas comunidades tinham entre 100 e 150 habitantes. Os habitantes dos sambaquis enfeitavam-se com colares de conchas, brincos e braceletes de ossos. Também faziam esculturas de animais – peixes, répteis e aves – provavelmente com algum objetivo religioso.
Os povos dos sambaquis desapareceram há aproximadamente 3.000 anos. Foram desalojados pelas tribos de índios tupi-guarani vindas do interior. Os portugueses que se estabeleceram em São Vicente e nos arredores, a partir de 1530, reutilizaram as conchas dos sambaquis para fabricar cal, com o qual construíram igrejas, fortes e solares.
A Era da Produção no Brasil
O desenvolvimento da produção de facas, raspadores, furadores e outros objetos pontiagudos inaugurou uma nova era na história das comunidades primitivas do Brasil. Depois de milhares de anos vivenda da caça e da coleta, algumas comunidades passaram a produzir o seu próprio alimento. Uma das consequências disso foi que os membros da comunidade passaram a se fixar por um tempo maior em um determinado lugar, pois não mais era necessário se deslocar para caçar. Com a melhoria da alimentação, a população cresceu.
A partir de então, tornou-se necessário estabelecer uma nova divisão social de trabalho. As mulheres cultivavam a mandioca, o cará, a batata-doce, a abóbora, o milho, o feijão e o amendoim. Também cozinhavam, cuidavam das crianças e produziam o artesanato doméstico.
Além da caça, da pesca e da guerra, os homens realizavam as seguintes atividades: a derrubada da mata para fazer os roçados, a confecção de canoas, armas e utensílios de trabalho e a construção das ocas – habitações coletivas.
As terras cultiváveis pertenciam a todos. O mesmo ocorria com os rios, as florestas e os campos onde caçavam. Tudo o que se obtinha era dividido igualmente entre os membros da comunidade.
Classificação dos povos indígenas
Para facilitar o estudo dos diferentes povos indígenas do Brasil, os antropólogos adotaram vários critérios de classificação. Os critérios mais comuns são tipos físicos, línguas e culturas.
De acordo com o critério do tipo físico, os antropólogos afirmam que os índios brasileiros pertencem à mesma origem dos chineses, japoneses e outros povos orientais.
O critério linguístico é classificado em três principais línguas: o tupi-guarani, o macro-jê e o aruak. Acredita-se que as várias línguas indígenas, cerca de 170, derivaram dessas três troncos linguísticos. Por exemplo, os idiomas kaiowá, apiacá, tupi, guarani e nheengatu originaram do tupi-guarani.
O critério das diferenças culturais fundamenta-se na ideia de que mesmo as tribos indígenas que pertençam ao mesmo grupo linguístico são diferentes em muitos aspectos culturais. Por outro lado, tribos que falem línguas diferentes podem possuir costumes semelhantes devido ao fato de viverem em regiões vizinhas.
Urias Rocha®
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