quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Roteiro de Pericias e Avaliação. Urias Rocha CNAI 24907

 

Urias Rocha - Perito e Avaliador Judicial e Mercadológico
CNAI 24907 BRASIL

Perícias Judiciais: Avaliações de Bens e Requisitos Legais

Nas esferas da Justiça Estadual e Federal, as perícias de avaliação de bens — sejam imóveis urbanos e rurais, máquinas ou equipamentos — desempenham um papel fundamental. Contudo, para realizar esse tipo de atividade, é imprescindível possuir habilitação legal específica.

Requisitos para Avaliações por Tipo de Bem

  1. Imóveis Urbanos: As avaliações devem ser realizadas por engenheiros civis, arquitetos ou corretores de imóveis com cadastro no CNAI - Cadastro Nacional de Avaliadores e devidamente inscrito no CRECI/COFECI, conforme as regulamentações de seus respectivos conselhos de classe.
  2. Imóveis Rurais: Essas avaliações são conduzidas por Corretores de Imóveis com CNAI, com assessoria de  engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, técnicos em agrimensura ou outros profissionais habilitados na área.
  3. Máquinas, Equipamentos e Veículos: A responsabilidade recai sobre Corretores  cadastrado no CNAI com assessoria técnica de engenheiros mecânicos e outros profissionais com habilitação específica conforme a natureza do bem avaliado.

Contextos das Avaliações

As perícias de avaliação de imóveis podem ocorrer em diversos tipos de processos judiciais, como:

  • Desapropriações e servidões;
  • Partilhas de bens;
  • Dissolução de sociedades;
  • Sub-rogação de gravames;
  • Ações renovatórias de locação, entre outros.

Essas avaliações podem determinar valores venais (de mercado) ou locativos (aluguéis mensais), dependendo da finalidade da perícia.

Além disso, há um grande número de avaliações relacionadas a bens penhorados em ações de execução. Nesse caso, a principal finalidade é definir o valor base para o leilão do bem. É importante ressaltar que, nesse tipo de avaliação, a responsabilidade técnica é menos rigorosa, já que o objetivo é apenas estabelecer um valor inicial para os lances.

Normas do Código de Processo Civil (CPC)

O Código de Processo Civil traz regulamentações específicas para as avaliações de bens penhorados:

  • Artigo 154, §5º: Permite que o oficial de justiça realize a avaliação de bens penhorados.
  • Artigo 870: Determina que a avaliação de bens penhorados deve ser conduzida por um oficial de justiça, salvo quando o juiz entender que a complexidade do caso exige conhecimentos especializados. Nesse cenário, será nomeado um avaliador com habilitação legal, como engenheiro, arquiteto, corretor de imóveis, entre outros.

Perícia Judicial vs. Avaliação de Bem Penhorado

É importante diferenciar a avaliação de bem penhorado de uma perícia judicial:

  • Perícia Judicial: Tem como objetivo a produção de provas e resulta em um laudo técnico que pode fundamentar a decisão judicial. Envolve maior rigor técnico, apresentação de quesitos e participação de assistentes técnicos indicados pelas partes.
  • Avaliação de Bem Penhorado: Visa apenas determinar o valor base do bem para fins de leilão. Não é considerada uma perícia judicial, e, portanto, não exige a elaboração de quesitos ou a participação de assistentes técnicos.

Cuidados e Formação do Perito

Para atuar como perito judicial, é essencial dominar as normas e requisitos específicos. A falta de conhecimento ou o descumprimento de exigências legais pode levar ao descadastramento do perito pelos tribunais, conforme previsto no Novo Código de Processo Civil.

Para aprofundar seu conhecimento, consulte fontes especializadas, como o Manual de Perícias, o Roteiro de Perícias, e participe de cursos presenciais ou a distância. Essas ferramentas oferecem orientações detalhadas para a correta condução das perícias judiciais.

Mais informações sobre avaliações de imóveis: Anexos de laudo de avaliação – Arquiteto avaliador – Aplicativo Avalia – Avaliação de apartamento – Avaliação de benfeitorias – Avaliação de casa – Avaliação de galpão – Avaliação de imóvel urbano – Avaliação de loja – Avaliação de terreno – Avaliação judicial – Avaliador da CEF (credenciamento) – Corretor de imóveis avaliador – Critério de Chauvenet – CUB – Depreciação de imóvel – Engenheiro avaliador – Enquadramento do laudo de avaliações – Escritura – Especificação do laudo de avaliação – Estatística inferencial (regressão linear) – Estimativa de tendência central – Fator atualização – Fator esquina –  Fator localização – Homogeneização (Tratamento de Fatores) – Honorários na avaliação de imóveis – IBAPE – Software de avaliações Infer – Inferência estatística – Avaliações para a Justiça (perito avaliador) – Matrícula –Método comparativo – Método da Quantificação do Custo – Método da Renda – Método Evolutivo – Método Involutivo – Métodos de avaliação de imóveis – Modalidade de laudo de avaliação – NBR-14653 – Nível de fundamentação de laudo de avaliação de imóvel – Nível de precisão de laudo de avaliação –  Perito judicial – Pesquisa (amostra do laudo de avaliação) – PGM – Planta Genérica (Planta de Valores) – Proposta de honorários para laudo de avaliação – Regressão linear – Saneamento da amostra – Software de avaliações Sisdea – Software de avaliações Sisreg – Software de avaliações – Tabela Ross-Heidecke – Tipos de avaliações de imóveis – Tratamento de fatores – Uncategorized – Valor de mercado de imóvel – Vantagem da coisa feita – Vistoria do imóvel.



Urias Fonseca Rocha

Perito e Avaliador Judicial e Mercadológico

CRECI 8593 MS - CNAI 24907 BRASIL

Jornalista 1894MS

O Dia da Consciência Negra. O que representa.

O Dia da Consciência Negra: Um Chamado à Reflexão sobre a Igualdade e a Justiça

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, não é apenas uma data comemorativa, mas um marco para reflexão sobre as injustiças que moldaram nossa história e continuam a influenciar a sociedade. Este é um momento de relembrar as atrocidades cometidas contra o povo negro ao longo dos séculos — um povo saqueado, escravizado, violentado e submetido às mais desumanas condições.

A escravidão no Brasil, que durou mais de 300 anos, foi uma das mais brutais e persistentes do mundo. Milhões de homens, mulheres e crianças foram arrancados de suas terras na África, forçados a atravessar o Atlântico em condições sub-humanas e obrigados a trabalhar até a exaustão em fazendas, minas e cidades. Eles enfrentaram violência física e psicológica, tiveram suas culturas e identidades apagadas, e suas famílias foram destruídas.

Mas a história da escravidão e do racismo estrutural não se restringe ao Brasil. Ao redor do mundo, o colonialismo europeu explorou povos e territórios, promovendo genocídios, violências e desigualdades que reverberam até hoje.

Por isso, o Dia da Consciência Negra não é para celebrar, mas para conscientizar. Especialmente aqueles que, direta ou indiretamente, perpetuaram ou se beneficiaram desse sistema. É um recado aos racistas, passados e presentes, que cometeram e ainda cometem injustiças contra um povo resiliente, cuja força e cultura enriqueceram a humanidade.

É um chamado para reconhecer que a luta pela igualdade não é dos negros, mas da sociedade como um todo. O respeito à igualdade humana não é favor, é dever. Que este dia inspire mais empatia, educação e ações concretas contra o racismo.

Um Minuto de Silêncio pelas Vítimas da Escravidão e suas Heranças

Neste 20 de novembro, não há o que comemorar. Há, sim, o que refletir e homenagear. Façamos um minuto de silêncio por todos os homens, mulheres e crianças arrancados de suas terras, torturados, mortos e transformados em escravos para sustentar sistemas de opressão e desigualdade.

Silenciemos em respeito às famílias desfeitas, às vidas interrompidas e aos sonhos roubados. Um minuto de silêncio também aos que, ainda hoje, enfrentam condições desumanas de trabalho, como a jornada exaustiva de 6x1, que não é tão distante do escravagismo. Este sistema moderno afasta pais de seus filhos, fragiliza laços familiares e perpetua uma lógica que desumaniza o trabalhador.

Este não é um dia de celebração. É um dia para contemplar com respeito e apreço as vítimas da escravidão, um crime contra a humanidade que deixou cicatrizes profundas na história e ainda ecoa em práticas contemporâneas.

Que este silêncio nos leve a ações concretas pela dignidade, pela igualdade e por um futuro onde o trabalho e a vida sejam respeitados em sua plenitude.

Assinado,
Urias Rocha, Jornalista

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

AUTORIZADO DO USO DE MISSEIS DE LONGO ALCANCE POR EUA E FRANÇA CONTRA A RUSSIA. Analise

 Por Urias Rocha Br

O mundo testemunha uma escalada sem precedentes no conflito entre a Rússia e a OTAN, com a recente autorização de uso e fornecimento de mísseis de longo alcance pelos EUA, França e Inglaterra contra a Rússia. Esse movimento, que muitos ainda subestimam, pode ser interpretado como o marco inicial de uma Terceira Guerra Mundial, com consequências devastadoras para a ordem global.

A Rússia, profundamente ligada a seus territórios históricos, jamais aceitará perder áreas que considera essenciais à sua identidade e segurança. A Ucrânia, palco desse confronto, é um território complexo. Milhões de russos vivem em seu solo, especialmente nas regiões de Donetsk, Lugansk, Crimeia e outras áreas que têm fortes laços históricos e culturais com Moscou. Dados demográficos mostram que a presença de russos é significativa em partes da Ucrânia, mas afirmar que 90% da população ucraniana é russa não condiz com as estatísticas oficiais.

A guerra, que começou com a anexação da Crimeia em 2014 e escalou em 2022 com a invasão russa, é uma disputa multifacetada. Desde o início, a Ucrânia recebeu apoio militar e logístico de países da OTAN, enquanto mercenários estrangeiros se juntaram ao conflito. Estima-se que mais de 20 mil combatentes estrangeiros tenham lutado contra as forças russas, destacando a internacionalização desse conflito. Do outro lado, a Rússia agora conta com o apoio formal de militares da Coreia do Norte, ampliando o alcance global da guerra.

A Geopolítica das Nações

A história mostra que fronteiras e estados-nações sempre foram moldados por guerras e decisões políticas. O Estado de Israel, por exemplo, foi criado em 1948 por decisão da ONU, após décadas de disputas territoriais e religiosas. No entanto, sua fundação resultou no deslocamento e na morte de milhares de palestinos, gerando tensões que persistem até hoje.

De forma semelhante, o assalto ao petróleo do Iraque nas guerras lideradas pelos EUA reflete um padrão de intervenção em nome de interesses econômicos e estratégicos. Essas ações frequentemente desestabilizam regiões inteiras, deixando um rastro de destruição e sofrimento.

No caso da América Latina, o Esequibo, disputado entre a Venezuela e a Guiana, e as Ilhas Malvinas, ainda sob domínio britânico, são exemplos de conflitos territoriais não resolvidos, em que potências estrangeiras mantêm o controle sobre recursos estratégicos.

O Sistema Financeiro Global e os Desafios Econômicos

Outro ponto crítico é o sistema financeiro global. A Rússia e a Venezuela tiveram bilhões de dólares em reservas congeladas, como parte de sanções econômicas impostas por potências ocidentais. Essas sanções são frequentemente vistas como ferramentas de dominação econômica, controladas por instituições como o SWIFT e sistemas bancários internacionais.

O dólar, sem um lastro fixo desde o fim do padrão-ouro em 1971, opera como uma moeda global, imprimida em volumes exorbitantes pelos EUA. Atualmente, o PIB dos EUA gira em torno de 28 trilhões de dólares, enquanto sua dívida ultrapassa os 44 trilhões, com uma emissão de moeda que supera os 100 trilhões. Essa situação é insustentável e contribui para um sistema econômico global injusto.

O Papel do BRICS e uma Nova Ordem Mundial

Diante desse cenário, o BRICS surge como uma alternativa viável à hegemonia do dólar e ao controle econômico das potências ocidentais. Composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo busca criar uma nova moeda internacional que não dependa de interesses privados ou bancários centralizados. Essa iniciativa tem o potencial de inaugurar uma nova ordem mundial, mais equilibrada e justa, promovendo maior integração entre nações soberanas.

Reflexões Finais

A guerra na Ucrânia é um microcosmo das disputas geopolíticas que moldam nosso mundo. Para entender os eventos atuais, é essencial revisitar a história e questionar as narrativas dominantes, frequentemente influenciadas por interesses de elites globais. Somente com conhecimento e consciência histórica poderemos construir um futuro mais justo e integrado para todas as nações.


Urias Rocha BR

Jornalista MS

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Com a Bomba no STF fica encerrado qualquer possibilidade de anistia e inclusive debates sobre o tema.

 

Bomba na praça faz o  enterro da anistia e toda e qualquer discussão sobre o tema. 


Após as explosões nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF) na noite de quarta-feira (13), os ministros da corte enviaram uma mensagem contundente ao Congresso: "não vamos permitir que ousem discutir a anistia depois disso".

Segundo informações do Blog da Natuza Nery, do G1, houve ligações para importantes líderes da Câmara reforçando a postura de tolerância zero da corte em relação aos atentados. Esse incidente, apoiado por alguns grupos bolsonaristas, pode comprometer o andamento do projeto de lei que busca conceder anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

O episódio também evidenciou a necessidade de fortalecer as políticas de segurança na Esplanada dos Ministérios. Além de proteger o local de manifestações violentas como as de janeiro, será preciso estar preparado para novos atentados isolados, o que torna o cenário ainda mais delicado.

A identidade do homem que morreu após detonar uma bomba em frente ao STF foi confirmada: Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França, ex-candidato a vereador pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. O corpo foi encontrado desfigurado, evidenciando as lesões causadas pela explosão.

Um segundo incidente ocorreu próximo à Câmara dos Deputados, quando um carro carregado com fogos de artifício explodiu no estacionamento entre o STF e o Anexo IV da Câmara. Ambas as explosões aconteceram com um intervalo de apenas 20 segundos, por volta das 19h30, e já são objeto de investigação da Polícia Federal (PF).

Com a possibilidade de novos ataques, a PF encaminhará o inquérito ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator da investigação sobre os atos antidemocráticos de janeiro.

“Enterro da anistia”

Em grupos de WhatsApp, deputados bolsonaristas comentaram as explosões, sugerindo que os atentados poderiam inviabilizar o projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro. De acordo com a Folha de S.Paulo, conversas entre membros da oposição indicam o impacto político dos atentados.

O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) compartilhou uma imagem do suspeito das explosões e escreveu: "Parece que foi esse cara mesmo. Agora vão enterrar a anistia. Pqp". Em resposta, o deputado Capitão Alden (PL-BA) comentou: "Lá se foi qualquer possibilidade de aprovar a anistia. Adeus redes sociais e esperem os próximos 2 anos de perseguição ferrenha!". Outro deputado, Eli Borges (PL-TO), mencionou: "Se tentou ajudar, atrapalhou".

Em outubro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), havia retirado o projeto da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), anunciando a criação de uma comissão especial para analisá-lo. No entanto, essa comissão ainda não foi formalmente constituída.


Urias Rocha BR

Jornalista MS


terça-feira, 12 de novembro de 2024

A história da Faixa de Gaza, a 'maior prisão a céu aberto' do mundo.

 

A história da Faixa de Gaza, a 'maior prisão a céu aberto' do mundo.

Criança chorando e olhando pela janela

ataque sem precedentes do grupo militante palestino Hamas contra Israel no último sábado (7/10) foi lançado a partir de um dos territórios mais densamente povoados e empobrecidos de todo o mundo.

Foi na Faixa de Gaza que começou uma longa série de conflitos armados, incluindo algumas das guerras que determinaram a história recente da região.

Há décadas que existe tensão entre Israel e o Hamas, que passou a controlar a Faixa de Gaza em 2007. Mas o ataque do grupo militante em 7 de outubro pegou a todos de surpresa.

O Hamas disparou milhares de foguetes contra Israel, enquanto dezenas de combatentes atravessaram a fronteira e invadiram comunidades israelitas. Centenas de pessoas foram mortas e outras foram capturadas.

O episódio foi descrito como o mais sério ataque fronteiriço enfrentado por Israel em mais de uma geração – e a mais ambiciosa operação do Hamas a partir de Gaza.

Mas qual é a história daquele lugar, que as organizações de direitos humanos e os próprios palestinos qualificam como a "maior prisão ao ar livre do mundo"?

Terra de sucessivas ocupações

Em setembro de 1992, o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin (1922-1995) comentou para uma delegação americana: "gostaria que Gaza afundasse no mar, mas isso não vai acontecer, de forma que é preciso encontrar uma solução".

Rabin foi assassinado por um judeu extremista em 1995. E, mais de 30 anos depois daquela declaração, ninguém conseguiu encontrar uma solução para a região.

Footo antiga mostra pessoas e animais em Gaza

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,A Faixa de Gaza faz parte de um território mais amplo, conhecido como a Terra Santa

A Faixa de Gaza é um território com 41 km de comprimento por 10 km de largura. Ela fica entre Israel, o Egito e o mar Mediterrâneo.

Ali, moram cerca de 2,3 milhões de pessoas – uma das maiores densidades populacionais do mundo. E o território enfrenta um longo histórico de cercos e ocupações, que começaram 4 mil anos atrás.

Gaza foi governada, destruída e repovoada por diversas dinastias, povos e impérios, desde os antigos egípcios – centenas de anos antes de Cristo – até o século 16, quando caiu nas mãos do Império Otomano.

Nesse período, a região foi conquistada por Alexandre, o Grande, pelo Império Romano e pelo general muçulmano Amr ibn al-As. Com isso, a Faixa de Gaza mudou várias vezes sua fé religiosa e alternou períodos de prosperidade e declínio ao longo dos séculos.

Homens do exército israelense caminhando

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,O Exército israelense ocupou Jerusalém Oriental após sua vitória na Guerra dos Seis Dias, em 1967

Gaza fez parte do Império Otomano até 1917, quando passou a ser controlada pelo Reino Unido. Os britânicos se comprometeram a apoiar a formação de um reino árabe unificado.

Durante a Primeira Guerra Mundial, turcos e britânicos chegaram a um acordo sobre o futuro da Faixa de Gaza e da maioria dos territórios árabes na Ásia que pertenciam ao Império Otomano.

Mas, durante a Conferência de Paz de Paris de 1919, as potências europeias vencedoras da Primeira Guerra impediram a criação do prometido reino árabe unificado. Elas estabeleceram uma série de mandatos para que pudessem repartir e controlar toda a região.

Foi assim que a Faixa de Gaza passou a fazer parte do Mandato Britânico da Palestina, autorizado pela Liga das Nações e que se estendeu de 1920 a 1948.

Mapa mostra divisão da Palestina entre mandato britânico e Emirado da Transjordânia

Guerras e divisão de territórios

Após a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido decidiu transferir a decisão sobre a Palestina para a recém-criada Organização das Nações Unidas.

Em 1947, a ONU aprovou a Resolução 181, que dividiu a Palestina da seguinte forma: 55% do território para os judeus, Jerusalém sob controle internacional e o restante para os árabes (incluindo a Faixa de Gaza).

A resolução entrou em vigor em maio de 1948, pondo fim ao Mandato Britânico da Palestina e criando o Estado de Israel.

Mapa mostra plano da ONU para divisão da Palestina em 1947, com Estado árabe, judeu e a cidade internacional

Os enfrentamentos entre as partes envolvidas começaram quase imediatamente, desembocando na guerra árabe-israelense de 1948. Com o conflito, centenas de milhares de refugiados palestinos se deslocaram e acabaram se assentando na Faixa de Gaza.

Depois do armistício, Gaza foi ocupada e administrada pelo Egito até a Guerra dos Seis Dias, em 1967 – um conflito entre Israel e uma coalizão árabe formada pela Jordânia, Iraque e pela antiga República Árabe Unida, que reunia o Egito e a Síria.

Israel venceu o conflito e, desde então, ocupa a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Esta ocupação desencadeou uma série de violentos combates que chegaram até os dias de hoje.

Mapa mostra fronteiras depois da Guerra dos Seis Dias

A primeira intifada (levante) dos palestinos contra os israelenses ocorreu na Faixa de Gaza, em 1987. No mesmo ano, foi criado o grupo militante islâmico Hamas, que se estenderia posteriormente aos outros territórios ocupados.

Os Acordos de Oslo entre israelenses e palestinos, em 1993, criaram a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e concederam autonomia limitada à Faixa de Gaza e partes da Cisjordânia ocupada.

Após uma segunda intifada, muito mais violenta que a primeira, Israel retirou suas tropas e cerca de 7 mil colonos da Faixa de Gaza em 2005.

Um ano depois, o Hamas venceu de forma clara as eleições palestinas. Este resultado gerou uma violenta luta de poder em 2007 entre o Hamas e o partido Fatah, liderado pelo presidente da ANP, Mahmoud Abbas.

O grupo militante saiu vitorioso na Faixa de Gaza. Desde então, o Hamas mantém o poder na região, tendo sobrevivido a três guerras e a um bloqueio de 16 anos.

O Hamas jurou destruir Israel e substituir o país por um Estado islâmico. E, nos últimos anos, o grupo realizou ataques mortais, lançando milhares de foguetes sobre o território israelense.

O Hamas – o grupo como um todo ou, em alguns casos, sua ala militar – é considerado um grupo terrorista por Israel, pelos Estados Unidos, pela União Europeia e pelo Reino Unido, entre outras potências. O grupo conta com o apoio do Irã, que fornece financiamento, armas e treinamento.

O bloqueio

Após a chegada do Hamas ao poder, Israel e Egito impuseram um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo sobre a Faixa de Gaza. E, apesar dos pedidos das Nações Unidas e dos grupos de direitos humanos, Israel mantém o bloqueio desde 2007.

Este bloqueio causou efeitos devastadores para os civis palestinos, que enfrentam severas restrições de movimentação.

Israel proíbe os palestinos de entrar ou sair da região, "exceto em casos extremamente raros, que incluem condições médicas urgentes que representem risco de vida e uma lista muito restrita de comerciantes", segundo o grupo israelense de direitos humanos B'Tselem.

Pessoas diante de destroços de prédios e carros

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Israel investiu contra a Faixa de Gaza em represália aos ataques do Hamas em 7 de outubro

A organização Human Rights Watch comparou as condições da Faixa de Gaza com "uma prisão ao ar livre", devido às restrições de movimentação impostas por Israel aos palestinos da região.

O bloqueio permite o controle das fronteiras de Gaza e também é exercido pelo Egito. Israel afirma que é uma ação necessária para proteger os cidadãos israelenses contra o Hamas.

Mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha considera o bloqueio ilegal, afirmando que ele infringe as Convenções de Genebra. As autoridades israelenses negam a acusação.

A ONU, diversos grupos de direitos humanos e juristas afirmam que o bloqueio faz com que Gaza permaneça sob ocupação militar por parte de Israel.

Para tentar vencer o bloqueio, o Hamas construiu uma rede de túneis para introduzir mercadorias e armamento na Faixa de Gaza. Os túneis também servem de centro de comando subterrâneo.

Israel considera que esses túneis são uma ameaça. Eles são alvos frequentes de ataques aéreos.

Homem em túnel

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,O Hamas construiu uma rede de túneis para levar mercadorias para a Faixa de Gaza

No limiar da pobreza

O bloqueio de Israel sobre a Faixa de Gaza já dura 16 anos. Limitando as importações e quase todas as exportações da região, ele levou a economia do território à beira do colapso.

A taxa de desemprego da Faixa de Gaza é de mais de 40%, segundo o Banco Mundial. E a ONU afirma que mais de 65% da população vive abaixo da linha da pobreza.

O Programa Mundial de Alimentos calcula que 63% da população da Faixa de Gaza vive em "insegurança alimentar".

A metade dos palestinos que vivem em Gaza tem menos de 19 anos de idade. Eles têm pouca ou nenhuma perspectiva de crescimento socioeconômico e seu acesso ao mundo exterior é limitado.

Existe também pouco apoio para uma geração de crianças que "vive sob os efeitos psicológicos de longo prazo da constante exposição à violência", segundo um relatório da ONU, que descreve o aumento dos problemas de saúde mental entre os jovens da Faixa de Gaza, incluindo a depressão.

"O fechamento de Gaza impede que profissionais talentosos, que têm muito a dar à sua sociedade, aproveitem oportunidades que pessoas de outros lugares têm como certas", afirmou a Human Rights Watch, em um relatório de 2021.

Para a organização, "impedir que os palestinos em Gaza se movimentem livremente dentro da sua terra natal dificulta a vida e destaca a cruel realidade do apartheid e da perseguição de milhões de palestinos".

Criançase adultos em volta de fogueira

Crédito,Reuters

Legenda da foto,Apagões frequentes prejudicam quase todos os aspectos da vida diária na Faixa de Gaza

Atualmente, 2,3 milhões de palestinos vivem em um território de cerca de 360 km². Eles fazem com que a Faixa de Gaza seja "um dos territórios mais densamente povoados do mundo", segundo a ONG israelense Gisha.

A ONU afirma que quase 600 mil refugiados vivem em oito acampamentos abarrotados no território.

Como base de comparação, Londres tem densidade populacional de cerca de 5,7 mil habitantes por quilômetro quadrado. Na capital de São Paulo, este índice é de cerca de 7,5 mil pessoas.

Na cidade de Gaza, moram mais de 9 mil pessoas por quilômetro quadrado.

Em 2014, Israel declarou uma zona de defesa ao longo da fronteira para se proteger dos ataques de foguetes e incursões dos militantes islâmicos. Essa delimitação reduziu a quantidade de terra disponível no território para moradias e fazendas.

E os cortes de eletricidade fazem parte do dia a dia na Faixa de Gaza. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), a maioria das casas do território só tem eletricidade três horas por dia.

A maior parte da eletricidade da Faixa de Gaza vem de Israel, exceto por uma única usina geradora local e uma pequena quantidade que chega do Egito.

Além da energia elétrica, a água é escassa para a maioria dos habitantes de Gaza e seu sistema público de saúde enfrenta situação precária.

A assistência médica nos territórios palestinos é de responsabilidade da Autoridade Nacional Palestina. Segundo a OCHA, o bloqueio de Israel e do Egito, aliado à redução dos investimentos da ANP no setor de saúde e aos conflitos políticos internos entre a ANP e o Hamas fizeram com que o território chegasse a esta situação.

A ONU colabora administrando 22 centros de saúde, mas diversos hospitais e clínicas já haviam sido danificados, ou mesmo destruídos, em combates anteriores com Israel.

E, agora, com os últimos ataques, as condições dos civis em Gaza e a infraestrutura do território certamente irão se deteriorar ainda mais.

Urias Fonseca Rocha 

Brasil - Jornalista