A Proibição dos Bailes Funk em Campo Grande: Preconceito Disfarçado de Lei
Prefeita Adriane Lopes |
A recente decisão da prefeita de Campo Grande, MS, de proibir shows de bailes funk através da chamada "Lei Anti Oruam" é, na realidade, um ataque velado à cultura popular, disfarçado de medida de segurança. Mais do que uma política pública eficaz, essa proibição revela um **preconceito estrutural** alimentado por setores conservadores, especialmente igrejas evangélicas, que muitas vezes condenam expressões culturais urbanas enquanto fecham os olhos para problemas muito mais graves dentro de seus próprios espaços.
*Proibir o funk não resolve a violência, só criminaliza a cultura*
O funk, como movimento cultural, é uma expressão artística das periferias, um reflexo da realidade social de milhares de jovens. Em vez de censurá-lo, o poder público deveria investir em políticas que ataquem as **raízes da violência**: o tráfico de drogas, a falta de oportunidades e a marginalização socioeconômica.
Se a prefeita realmente quisesse combater a criminalidade, deveria:
*Fortalecer parcerias com o Estado e a União** para políticas antidrogas eficientes;
*Criar centros de recuperação** para dependentes químicos;
*Implementar programas de reinserção social e econômica** para jovens em situação de vulnerabilidade;
*Investir em educação, cultura e lazer** como ferramentas de transformação.
Proibir o funk é uma medida autoritária que **não reduz a criminalidade**, apenas empurra os eventos para a clandestinidade, tornando-os ainda mais perigosos.
*A hipocrisia do discurso moralista*
É irônico que setores que pregam "moralidade" sejam os mesmos que abrigam escândalos de **desvio de verbas, abusos de poder e até casos de violência sexual** dentro de suas próprias instituições. Enquanto isso, o funk, que é apenas uma manifestação cultural, é tratado como "causa da degradação social".
Se a preocupação fosse realmente com a segurança pública, a prefeitura estaria combatendo **milícias, tráfico de armas e corrupção policial** – problemas muito mais urgentes do que um baile de comunidade.
*Uma lei inconstitucional e antidemocrática*
A proibição de shows de funk não apenas fere o **direito à livre expressão artística (garantido pela Constituição Federal, Art. 5º, IX)**, mas também reforça um **preconceito de classe e raça**, já que o funk é majoritariamente produzido e consumido por jovens negros e periféricos.
Em vez de criminalizar a cultura, o poder público deveria **regulamentar** os eventos, garantindo segurança e estrutura, em vez de simplesmente **banir** o que não compreende.
*Conclusão: Falta política pública, não repressão cultural*
Campo Grande precisa de **soluções reais**, não de medidas populistas que só servem para agradar a uma base eleitoral conservadora. Enquanto a prefeitura gasta energia proibindo bailes funk, **o tráfico segue agindo livremente, a violência cresce e os jovens continuam sem perspectivas**.
É hora de exigir **políticas públicas sérias**, e não leis que apenas mascaram o preconceito e a incompetência administrativa. Cultura não é crime – **crime é negar ao povo o direito de existir e se expressar**.
Urias Rocha BR
Jornalista e membro da ADESG
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