A Terra Plana Segundo Neonazistas e Bolsonaristas no Brasil: A Ignorância como Plataforma Política
Por Urias Rocha BR – Catedrático em Geopolítica Nacional e Internacional. Membro da ESG – Escola Superior de Guerra
Nos últimos anos, um fenômeno peculiar ressurgiu no Brasil e no mundo: a crença na Terra Plana. Apesar de ser uma ideia refutada pela ciência há séculos, grupos extremistas, entre eles neonazistas e bolsonaristas, se apropriaram dessa teoria sem fundamentos para fomentar a desinformação e minar o pensamento crítico da população.
A crença na Terra Plana não se trata de um simples equívoco intelectual ou um erro conceitual ingênuo. Trata-se de uma estratégia de manipulação baseada na negação do conhecimento e na exaltação da ignorância como forma de controle social. Esses grupos encontraram no terraplanismo uma ferramenta eficaz para desacreditar instituições científicas, acadêmicas e midiáticas, preparando o terreno para a ascensão de discursos antidemocráticos.
O Uso Político da Ignorância
A ideia de que o planeta é um disco plano tem raízes em teorias ultrapassadas, mas o que preocupa não é a crença em si, e sim como ela é utilizada politicamente. Movimentos extremistas se aproveitam do terraplanismo para propagar uma visão de mundo conspiratória, onde a ciência e a verdade são vistas como ameaças. Ao promover o descrédito da ciência, criam um ambiente propício para que suas narrativas antidemocráticas prosperem.
A desinformação não ocorre por acaso. Líderes populistas, como Bolsonaro e seus aliados, adotam discursos anticientíficos não porque acreditam neles, mas porque entendem que a negação da ciência e da educação é um mecanismo eficaz de dominação. Populações desinformadas são mais fáceis de manipular, pois deixam de questionar medidas autoritárias e passam a aceitar discursos de ódio e exclusão.
O Mapa de Gleason e a Deturpação da História
O “Mapa da Terra Plana do Mundo”, criado por Alexander Gleason em 1892, é frequentemente utilizado como “prova” pelos terraplanistas. No entanto, o mapa nunca teve qualquer reconhecimento científico. Gleason, um inventor e empresário americano, desenvolveu seu mapa como um diagrama para simplificar a projeção de rotas de navegação, e não como uma defesa da Terra Plana. A apropriação desse material pelos negacionistas contemporâneos revela uma profunda ignorância histórica e científica.
Além disso, a insistência no terraplanismo está diretamente ligada a um movimento maior de ataque ao pensamento racional. Não se trata apenas da forma do planeta, mas da construção de uma mentalidade anti-intelectual, onde a verdade objetiva dá lugar à crença cega em figuras autoritárias e teorias conspiratórias absurdas.
Conclusão: A Terra Plana como Símbolo da Regressão
A ascensão do terraplanismo no Brasil não é um fenômeno isolado. Ele faz parte de uma ofensiva maior contra o pensamento crítico e a democracia. Neonazistas e bolsonaristas utilizam essa narrativa para minar a credibilidade das instituições científicas e para consolidar um projeto de poder baseado na desinformação e na manipulação das massas.
A resposta para esse ataque à razão deve vir por meio da educação e do compromisso inabalável com a ciência e a verdade. O combate ao terraplanismo não é apenas uma questão de corrigir um erro conceitual; é uma batalha essencial para impedir que a ignorância se torne a base de uma sociedade cada vez mais refém da mentira e do autoritarismo.
Urias Rocha BR
Jornalista independente
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