Os regimes totalitários foram regimes políticos que existiram na primeira metade do século XX e baseavam-se no totalitarismo, um sistema político fundamentado no controle absoluto de um partido ou de um líder sobre toda nação. Dentro do sistema totalitarista, o líder ou o partido político detém amplos poderes sobre a vida pública e privada e, assim, representam o Estado.
Os regimes totalitários baseavam-se em um forte militarismo, que servia muito para intimidar e calar as vozes dissidentes. Junto do poder de intimidação, o totalitarismo apoiava-se em uma intensa propaganda ideológica com o objetivo de doutrinar a população e ressaltar as supostas benfeitorias realizadas pelo regime. Outra marca importante, muito em associação com o militarismo, era o terror. Dentro dos regimes totalitários, o terror era utilizado para perseguir os opositores.
Acesse também: Neonazistas: uma nova ameaça que afeta a democracia atual
Como surgiu o totalitarismo?
O auge do totalitarismo aconteceu nas décadas de 1920 e 1930, na Europa, e o surgimento desse sistema político está diretamente relacionado com as consequências do pós-guerra. A Primeira Guerra Mundial foi um acontecimento marcante na história mundial e, ao fim desse conflito, o saldo deixado foi de destruição, morte e muita crise – tanto política quanto econômica.
Após a Primeira Guerra, a destruição material e a quantidade de mortos tinham alcançado níveis sem precedentes. Além disso, o desfecho do conflito havia deixado uma série de ressentimentos, o crescimento do comunismo atemorizava as classes médias e altas da Europa Ocidental, e as crises econômicas afetava a todos e levava países à falência.
Todos esses elementos levaram muitos a questionar as qualidades da democracia liberal e, com isso, o autoritarismo passou a ser visto como a solução de todos os problemas que acometiam o mundo. Essa defesa do autoritarismo fez com que inúmeras democracias ruíssem na Europa, e pouquíssimos países conseguiram sustentar suas instituições políticas democráticas naquele período.
O termo “totalitarismo” surgiu na década de 1920 e foi criado, a princípio, para referir-se ao fascismo italiano, o primeiro regime totalitarista que foi implantado. Foi a partir do sucesso do fascismo italiano é que o fascismo conquistou força para espalhar-se como alternativa política em toda a Europa.
O ápice do totalitarismo na Europa aconteceu quando os nazistas ascenderam ao poder na Alemanha em 1933. A partir daí, movimentos de apoio a ideais totalitários da extrema-direita espalharam-se pelo mundo e chegaram, inclusive, no Brasil – o integralismo. No espectro político da esquerda, o totalitarismo manifestava-se por meio do regime político de Josef Stalin.
Características do totalitarismo
Os três grandes regimes totalitários da história foram o fascismo, o nazismo e o stalinismo. Esses foram os grandes regimes totalitaristas do século XX, embora existam estudiosos que apontem a existência de outros governos totalitaristas ao longo da história, como o Khmer Vermelho, que governou o Camboja de 1975 a 1979, e o atual regime da Coreia do Norte.
Apesar das diferenças ideológicas, existem algumas características em comum entre os três regimes totalitários citados, mas é importante frisar que cada um dos regimes totalitários enfocados neste texto possuíam características que eram peculiares a si exclusivamente. As características em comum eram:
Culto ao líder: o líder era reverenciado em todos os três regimes, e imagens deles eram espalhadas em todo o país.
Censura: os meios de comunicação não podiam emitir opiniões que não fossem aprovadas pelo governo. A existência de opositores também era proibida e eles eram calados à força.
Supressão dos partidos políticos: nos três regimes, somente existia o partido do governo. Todos os outros eram proibidos.
Criação de inimigos internos e/ou externos: a retórica totalitária criava inimigos internos/externos, e o combate a esses grupos justificavam a tomada de medidas extremamente autoritárias.
Os regimes totalitários, além disso, promoviam a centralização do poder no líder ou no partido, doutrinavam ideologicamente sua população, promoviam o terror para intimidar os opositores etc.
Acesse também: Crise de 1929: um dos momentos mais tensos no período entre as guerras mundias
Regimes totalitários na Europa
Como já mencionado, a Europa teve três grandes totalitários: o fascismo (1922-1945), o nazismo (1933-1945) e o stalinismo (1924-1953). Os dois primeiros estavam alinhados à extrema-direita e o terceiro estava alinhado à extrema-esquerda. Neste trecho do texto, faremos o destaque de algumas informações a respeito de cada um desses três regimes.
Benito Mussolini (à esquerda) foi o grande líder do fascismo italiano.¹
O fascismo foi o primeiro movimento totalitário a ser implantado na Europa. Ocuparam o poder da Itália, em 1922, quando Benito Mussolini foi nomeado primeiro-ministro após a realização da Marcha sobre Roma. O fascismo, por sua vez, surgiu em 1919 quando foi fundado os Grupos Italianos de Combate (Fasci Italiani di Combattimento).
A ascensão de Mussolini ao poder aconteceu em um contexto de crise política e econômica na Itália e de crescimento do comunismo no país. Assim, no começo da década de 1920, as forças fascistas começaram a agir violentamente contra grupos, como os comunistas, e angariaram o apoio dos liberais. Por meio da pressão dos fascistas, o rei italiano acabou nomeando Benito Mussolini como primeiro-ministro, em 1922. Em 1925, Benito Mussolini autoproclamou-se ditador da Itália e consolidou o sistema totalitário na Itália.
O fascismo é entendido como o regime precursor de movimentos conservadores na Europa e dentro do fascismo pode ser destacado a exaltação de valores conservadores e tradicionais, romantização e construção de um passado heroico, desprezo pelo socialismo, antiliberalismo etc.
O fascismo foi o grande aliado do nazismo na Europa e, durante a Segunda Guerra Mundial, foi parte do Eixo junto de alemães e japoneses. O regime fascista governou a Itália entre 1922 e 1945 e foi derrubado do poder como resultado da derrota do Eixo, na Segunda Guerra.
Saudação nazista realizada durante os Jogos Olímpicos de 1936. A saudação era uma parte do culto ao líder imposto pelos nazistas.¹
O nazismo surgiu na Alemanha, em 1919, com o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Adolf Hitler foi um dos primeiros membros do partido e com o passar do tempo tornou-se líder do partido. Atribui-se o crescimento de Hitler nos quadros do nazismo como resultado da sua capacidade de mobilizar multidões a partir de sua capacidade retórica.
O nazismo ganhou força na Alemanha, ao longo da década de 1920, e o fortalecimento desse partido está relacionado com a derrota do país na Primeira Guerra Mundial. A derrota espalhou uma sensação de que o país havia sido vítima de um complô que forçou a rendição dos alemães. Além disso, a opinião na sociedade alemã era de que o país tinha sido humilhado com os termos do Tratado de Versalhes.
A situação da Alemanha no pós-guerra, associada com a retórica nazista, empurrou muitas pessoas na sociedade alemã para a defesa de medidas autoritárias. Com o crescimento do nazismo, as tropas de assalto (SA) nazistas ganharam força e passaram perseguir os comunistas e social-democratas.
A ideologia nazista foi resumida por Adolf Hitler em seu livro escrito durante o período em que esteve preso – o Mein Kampf. Um dos pilares da ideologia nazista era o antissemitismo, nome pelo qual conhecemos o ódio contra os judeus. O antissemitismo era uma ideologia já difundida na sociedade alemã, desde o século XIX, e foi explorado pelos nazistas.
O crescimento do antissemitismo dentro da sociedade alemã acabou resultando no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. O Holocausto causou a morte de 6 milhões de pessoas, dos quais a maioria eram judeus. Os mortos durante o Holocausto foram mortos de diversas maneiras, destacando-se fuzilamentos e morte nas câmaras de gás.
O nazismo incluía, na sua ideologia, o antimarxismo, o antiliberalismo, a exaltação da guerra, o controle do Estado, o nacionalismo extremado, o culto ao líder e defendiam a ideia da superioridade da raça alemã (chamavam os alemães de arianos). Outro ponto importante da ideologia nazista era a defesa de um “espaço inato”, um território supostamente de direito onde os arianos/germânicos formariam o seu Terceiro Reich.
Em consequência disso, os nazistas passaram a impor um expansionismo territorial, por isso invadiram e anexaram a Áustria e a Checoslováquia. Quando invadiram a Polônia, em 1939, franceses e britânicos declaram guerra aos alemães o que deu início à Segunda Guerra Mundial.
Leia também: Noite dos Cristais: o episódio que iniciou o aprisionamento em massa dos judeus
Josef Stalin governou a União Soviética entre 1924 e 1953.²
O stalinismo foi o regime totalitário imposto durante o período em que a União Soviética foi governada por Josef Stalin. Existe um debate entre historiadores sobre o caráter totalitário do stalinismo, uma vez que existem historiadores que questionam essa classificação, embora grande parte dos historiadores concorde que o stalinismo tenha sido totalitário.
Josef Stalin era um dos membros do alto escalão do governo soviético, mas acabou assumindo o poder do país depois que Lênin morreu, em 1924. Em 1929, tornou-se o líder supremo da União Soviética e governou o país de maneira totalitária até 1953, o ano de sua morte.
Uma das marcas do stalinismo foi o culto à imagem do líder tanto que quando Stalin morreu, em 1953, a reação de muitos foi de assombro. Isso porque parte da sociedade soviética não conseguia imaginar o país sem o líder no poder. Percebe-se que figura do líder e do Estado confundiram-se durante os anos do stalinismo.
No stalinismo, outra marca muito evidente foi a perseguição de todos os opositores e todos aqueles que eram entendidos como uma ameaça ao Estado. Muitos dos perseguidos eram torturados ou sumariamente executados ou enviados para campos de trabalhos forçados, conhecidos como gulag. Até pessoas do serviço público foram vítimas de Stalin durante os expurgos da década de 1930.
Um dos momentos mais conhecidos do stalinismo foi a coletivização das fazendas, que aconteceu na década de 1930. Durante esse momento, os camponeses da União Soviética foram obrigados a entregarem suas terras e posses para o Estado (propriedade privada eram proibidas no país). Os camponeses também trabalhavam nessas terras e o que era produzido era entregue ao Estado por preços baixos.
O objetivo da coletivização era financiar a industrialização da União Soviética e resultou na morte de milhões de pessoas por conta da insuficiência de alimentos. Esse evento ficou conhecido na história como Holodomor. Além dos que morreram de fome, existem também milhares de camponeses que foram executados por resistirem à coletivização das terras.
Acesse também: Conheça a história de uma das armas mais utilizadas em toda a humanidade
Regimes totalitários no Brasil
O Brasil nunca viveu sobre um regime totalitário, apesar de, ao longo de nossa história, termos sido governados por regimes ditatoriais, como o Estado Novo, entre 1937 e 1945, e a Ditadura Militar que governou o país entre 1964 e 1985. Apesar disso, em nosso país surgiram grupos políticos que inspiraram-se em ideais de regimes totalitários, como o citado integralismo.
¹Créditos da imagem: Everett Historical e Shutterstock
²Créditos da imagem: chrisdorney e Shutterstock
Urias Rocha - PIX urias.corretor@gmail.com - Seja honesto, leu? Faça o pix acima de 2,00 reais
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixem seus comentários, com responsabilidade e cidadania.